Cantam da sentada e se esqueceram do suspiro
Mais vale empinar, jogar pra trás e dar o tiro
O lance é se pegar, desempenhar e cair fora
E quem se apaixonar é que errou, então, “só bora”

Cadê a velha poesia, sedução e o olhar?
Não vale só o tapa, mamar, usar e descartar
A sutileza faz o jogo, o toque leve que empolga
Agarrar, ser fogo e água, representar e dar uma folga

Atuação na cama é importante, é uma arte
Mas arte não é cama, “dar de louco, só uma parte”
Cantar o ululante diz muito pouco e quase nada
Cadê a alma posta, entrega fina e maturada?

Chegar ao sublime é mais que corpo e só sarrada
Tem a ver com a dança toda, juntar o dois no um e cada
Sorrir silencioso, toque leve e ideia certa
Querer quem não tá perto e ver que até palavra flerta

Gozar só é verdade pelo espírito e na pele
Se for só a carcaça, é bonita e não adere
É fraco, frouxo e tolo o prazer só de encaixar
Tem de ir além da superfície, do rebolar e do suar

Desejar alguém no íntimo, é ver cada sinal surgir
Acelerar o pulso, gostar da voz e do agir
Brilho intenso no olhar, ser de ave de rapina
Admirar cada detalhe, ver que só ela é “a mina”

Tem de saber o que faz o outro único pra gente
Querer perto quando longe, e distante estar presente
No abraço ter o mundo, no suspiro se perder
O cheiro, gosto e toque também são parte do ser

Não pode ser “só isso”, a mecânica, o automático
Ver o simples no complexo não é só falar “do ato”
Se não for tudo da pessoa, já nem pessoa é
Querer é por inteiro, se não for é cabaré

Basta desse périplo, o recado já foi dado
Vá além da obviedade, do objeto faturado
E tentando se encontar, permita se perder
Se aprofundar no outro é também mergulhar em você