Renan De Simone

Psicose ou expansão. Qual é o momento certo de crescer? (junho/2011)

O desenvolvimento de uma empresa fica, até certo ponto, atrelado ao desenvolvimento e ao caráter de quem a fundou. Aos poucos, com o passar do tempo e entrada de novo pessoal (caso a organização prospere), forma-se determinada cultura que, apesar de um tanto independente e influenciada pelos novos integrantes, ainda reflete a imagem daquele fundador.

As teorias psicanalíticas a respeito da formação do sujeito trazem em si uma concepção básica, a de que a criança que nasce é desprovida de libido, ou melhor dizendo, de amor. Na verdade, é o amor que a mãe investe nesse pequeno ser que vai dando a ele formato e capacidade de amar também. De início, a criança não se distingue da própria mãe (o mundo todo para ela é um quê de confuso), e é só ao se reconhecer como indivíduo que esse quadro vai se alterando.

Preenchida com o que a mãe lhe provê, a criança, de início, tem seu desenvolvimento atrelado ao investimento que a mãe lhe deu. Quando se reconhece como indivíduo, a criança forma seu narcisismo (morada do Eu), parte fundamental de sua personalidade que permite se amar e, depois, amar ao mundo.

Caso sua imagem não se separe da mãe (essa separação não significa rebeldia, mas sim independência como pessoa), a criança passa a viver numa situação terrível, que é a de confundir-se com sua genitora. Em termos simples, instaura-se a psicose, patologia caracterizada pelos delírios (que pode se apresentar de diversas formas e não apenas como representado em Norman Bates, no filme de Hitchcock).

Sem desejos próprios ou independência, seus processos psíquicos de indivíduo fracassam.

E a empresa?

O caso pode ser aplicado da mesma forma nas empresas. Nascida de seu fundador, ela tende a se desenvolver de acordo com a “libido”, investimento nela feito pelo seu genitor. O potencial que ela apresenta depende do quanto recebeu, e não se fala de investimento apenas financeiro, mas também de esforço cuidado, etc. Olhando dessa forma, o velho ditado de que “é o olho do dono que engorda o boi” não parece tão absurdo.

Entretanto, ao chegar a determinado patamar, uma decisão precisa ser tomada. Que rumo a empresa tomará? Ganhará corpo e forma, tornando-se “independente”, crescendo e criando personalidade própria? Ou ficará atrelada exclusivamente à imagem de seu fundador e ali permanecerá em delírio até uma possível morte precoce?

O que proponho aqui não é uma descaracterização da organização com seu criador, mas, pelo contrário, uma identificação.

Existe uma forte diferença em se olhar para alguém e notar traços de seus pais ou perceber uma personalidade conflituosa de uma pessoa que não sabe quem é e se confunde com outras.

A empresa deve ser encarada como um ser independente, que precisa de cuidados e investimento para crescer e se desenvolver. Entretanto, mais difícil que tudo, é o próprio fundador saber quando descolar sua imagem da organização e permitir que ela cresça e forme uma cultura independente, para que não tenhamos entidades psicóticas.

Empresários que formam empresas de sucesso são justamente aqueles que imprimem seus esforços nelas e permitem que evoluam, mesmo que não sejam um espelho mal formado deles mesmos e, assim, criam identificação muito maior com a organização.

As fases das empresas devem ser reconhecidas pelos seus fundadores e líderes e quando ela amadurece, é preciso ter determinada autonomia. Pergunte-se, de verdade, qual é o momento da sua empresa crescer. A resposta deverá estar alinhada com a de uma outra pergunta. Quando estou preparado para admitir que ela é um ser independente de mim?

E então, crescimento ou psicose? Escolha!