Renan De Simone

Bate-papo com Murilo Lobo, carnavalesco da Unidos do Peruche (fevereiro/2017)

Os barulhos de solda e de serra, misturados aos cheiros de cola e tinta, aliam-se ao visual dos tecidos de cores vibrantes, ajudando a compor o quadro de uma verdadeira oficina viva e pulsante. O barracão é enorme, com cobertura alta e diversos artistas trabalhando. E a pergunta é: como uma muralha verde, um dragão, canhões de guerra, estátuas de negros, músicos e mulheres conseguem se condensar em um tema que homenageia a cidade de Salvador?

Ferragens, estruturas, armações, estátuas gigantescas feitas com isopor e fibradas, e uma série de outros artefatos fazem parte da entrevista exclusiva que a reportagem do Sincodiv-SP Online realizou com Murilo Lobo, carnavalesco principal da escola de samba Unidos do Peruche, da Zona Norte de São Paulo.

Como não poderia ser diferente, para sentir todo o clima vivo do Carnaval, o bate-papo deste mês é a respeito da “festa do Momo” e traz curiosidades, informações e um aprofundamento nessa que é a maior celebração popular brasileira.

Lobo, que já passou pela escola Rosas de Ouro e está há três anos na Unidos do Peruche, conta como é gerenciar tantas pessoas, trata das inovações tecnológicas e do processo criativo de composições, fala da agenda de trabalho, de como a Peruche se reinventou e voltou ao grupo especial com sua contribuição, em 2015, e até mesmo como um Ford 29 faz parte da história do Carnaval baiano.

Acompanhe a entrevista na íntegra a seguir:

Sincodiv-SP Online: Como surgiu o seu envolvimento com o Carnaval? É algo de família?

Murilo Lobo: Minha família sempre gostou da festa de Carnaval, mas apenas como foliões, nunca participamos de uma escola. Aos 15 anos, lembro de uma festa a qual assisti em Tiradentes (MG) e fiquei encantado. Entretanto, me envolvi realmente com o Carnaval há apenas 10 anos.

Sou formado em Arquitetura – ainda atuo no ramo – e estava fazendo um projeto junto ao terceiro setor, um diretor da entidade envolvida me perguntou se eu gostava de Carnaval. Eu respondi que sim e ele me deu uma fantasia para desfilar numa ala da Rosas de Ouro. Foi incrível!

Tenho uma personalidade proativa e ajudei pessoas a amarrarem fantasias, se organizarem e etc., o que fez com que recebesse o convite de, no ano seguinte, ser um dos chefes de ala da escola. Aceitei e passei a me envolver mais, participar de reuniões técnicas e até mesmo a mandar comentários para o concurso de samba-enredo. Ao contrário do que se pensa, cada escola não compõe apenas um samba-enredo, mas sim realizam grandes festivais dos quais, entre diversos, o vitorioso acaba cantado na avenida.

O diretor musical da Rosas de Ouro gostou de meus comentários e então me convidou para participar da comissão julgadora dos sambas. Ali tive mais abertura para falar a respeito das obras e o carnavalesco de lá na época, Jorge Freitas (com passagens nas escolas Rosas de Ouro, Gaviões da Fiel e Império da Casa Verde), me convidou para escrever enredos com ele. Fiquei como assistente dele por cerca de oito anos, aprendendo muito.

Sincodiv-SP Online: Quando entrou na Peruche?

Murilo Lobo: Há três anos, a Unidos do Peruche me convidou para fazer o Carnaval com eles, quando ainda estavam no grupo de acesso. No ano anterior, ela tinha tido uma colocação bem ruim no próprio grupo. Em 2015, durante uma pesquisa sobre uma lenda africana a respeito da transformação de um garoto em guerreiro, decidi que era hora de mostrar para a escola que era possível virar o jogo e crescer, assim como o garoto da lenda. E ganhamos o Carnaval naquele ano, conseguindo subir para o grupo especial.

Sincodiv-SP Online: Muita coisa mudou de lá para cá?

Murilo Lobo: Sim, a comunidade cresceu e foi como um renascimento da Peruche que, no ano passado, conseguiu se manter no grupo especial. Só para se ter ideia, quando cheguei aqui, as festas no barracão tinham a participação de cerca de 300 pessoas. Hoje são mais de 2.000.

Sincodiv-SP Online: Quantas pessoas desfilarão pela escola nesse ano, incluindo a equipe técnica? E qual é a expectativa na avenida, alguma sugestão de campeã?

Murilo Lobo: Na Peruche, serão cerca de 2.600 pessoas, incluindo adultos, crianças, membros e atores. Dessas, 300 são da área técnica.

Como sou também compositor do enredo, a expectativa é grande. Todos entram para ganhar e, se as outras vacilarem, levaremos! No entanto, sou uma pessoa realista e meu ideal nesse ano é uma evolução gradual. Pretendemos consolidar a escola entre as grandes competidoras, animar a festa e contribuir ainda mais para a cultura do nosso país.

Quanto à sugestão de campeã, é difícil. Costumo apostar em bons sambas-enredo, setor que a Peruche tem tradição, pois já trouxe Joãozinho 30, Jamelão e Eliana de Lima, por exemplo. Neste ano, as que parecem vir bem forte nesse quesito são Vai-Vai, Unidos de Vila Maria, Império de Casa Verde, Dragões da Real… Enfim, eu costumo dizer que toda escola entra na avenida campeã e vai perdendo conforme os erros ocorrem ou as outras as superam. Todas têm seu valor!

Sincodiv-SP Online: Como funcionam as posições dentro de uma escola de samba?

Murilo Lobo: A posição máxima da escola é a presidência, aqui na Peruche ocupada pelo Ney (Sidney de Moraes); no projeto como um todo, abaixo dele, está o carnavalesco. E temos os diretores: geral, de harmonia, de música, de ateliê de fantasias e etc. A seguir vêm os demais componentes da escola. Sem contar os agregados da parte administrativa, comunicação, etc.

Sincodiv-SP Online: Como é o trabalho ao longo do ano?

Murilo Lobo: O trabalho é quase ininterrupto. Logo após o fim do Carnaval, temos cerca de 30 dias para definir o tema e enredo para o próximo. Por volta de maio, já com o tema do enredo definido, organizamos os festivais de samba-enredo, quando os compositores criam diversas obras.

Em média, participam de 18 a 25 times de compositores (com diversos integrantes, incluindo os escritores e parceiros comerciais), que, com seus respectivos sambas participarão de uma seleção até que o ganhador apareça. Nesse meio tempo, como o enredo já está definido, tem início a confecção das peças e fantasias piloto.

Em agosto, os artistas e artesãos chegam para o trabalho pesado e entre setembro e outubro começam os ensaios na quadra.

Sincodiv-SP Online: Os artistas e artesãos chegam de onde? A maior parte do trabalho em uma escola de samba não é voluntária?

Murilo Lobo: Há muitos anos o Carnaval tem se modificado e, para o trabalho pesado mesmo, o voluntariado é quase inexistente. Isso, ao contrário do que parece, é muito bom, pois profissionaliza a festa, gera empregos e renda para o país.

Há uma prática comum nas escolas de samba de São Paulo, do Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, de “importar” artesãos da cidade de Parintins (AM). É claro que existem profissionais da própria cidade de São Paulo e de cada escola trabalhando, mas a grande maioria da mão de obra é de Parintins.

Eles possuem uma escola de artes lá que “abastece” os carnavais de outros locais. Em agosto, já está acordado que as escolas contratarão esses profissionais. Então eu tenho trabalhando conosco ferreiros, escultores, pintores, etc., vindos de lá.

Sincodiv-SP Online: E de onde vem a verba de uma escola de samba para pagar todos os profissionais?

Murilo Lobo: Uma escola de samba tem diversas maneiras de gerar verba. Há uma verba fixa que recebemos da prefeitura da cidade de São Paulo para incentivo à cultura; temos também uma verba de direito de imagem sobre as transmissões realizadas pelas emissoras de TV. Quando no grupo especial, esse valor vem da Rede Globo. E conseguimos renda também com a realização de festas nos nossos barracões, vendendo bebida e comida aos participantes.

Além disso, muitas vezes contamos com patrocinadores, parceiros e apoiadores da escola. Desde pessoas físicas até empresas. Às vezes contribuem com materiais, em outras patrocinam um carro alegórico todo e etc. Esse ano, por exemplo, a Peruche conta com a parceria da Avatim, empresa de cosméticos que está trabalhando junto à prefeitura da cidade de Salvador para criar uma identidade olfativa para o local. Apelidada de “Xêro para Salvador”, a ideia é espalhar a fragrância em locais estratégicos do município – como pontos turísticos, aeroporto, etc.

Como falaremos da cidade de Salvador, a Avatim está nos apoiando e teremos essa fragrância, esse “Xêro”, também no nosso abre-alas.

Sincodiv-SP Online: Você precisa lidar com diversas pessoas na condução dos trabalhos. Não apenas conhecidos, mas, como disse, até profissionais de outros locais, como é gerenciar as equipes?

Murilo Lobo: É preciso delegar funções e confiar nas pessoas que estão com você. O trabalho acontece em três grandes frentes: barracões, quadra e nos ateliês de fantasia. Ao todo, são mais de 70 profissionais trabalhando ininterruptamente de agosto até o dia do Carnaval.

Para coordenar todas essas pessoas, conto com assistentes e, neste ano, temos o reforço de um carnavalesco parceiro, o Sérgio Gall. Mas nada é possível sem planejamento, então é preciso planejar muito, fazer agendas semanais, planos diários e cronogramas do que devemos terminar e quando para as etapas serem concluídas a tempo e com qualidade. Tudo tem de ser em sintonia, pois uma parte do trabalho depende da outra e precisam estar alinhadas.

Para as coisas urgentes ou inesperadas, estou próximo o tempo todo para decidir rapidamente sobre o que for necessário, em especial mudanças repentinas. Nesse quesito, devo também agradecer ao Ney, presidente da Unidos do Peruche, que confia no meu trabalho e sempre me deu liberdade para executar o que for preciso.

Sincodiv-SP Online: Ter liberdade para trabalhar é fundamental?

Murilo Lobo: Sim, e o Sidney cria esse ambiente aberto, criativo, não barra ideias. Às vezes ocorre o oposto, ele quer fazer tanta coisa que eu preciso cortar algumas delas (risos). Ele é uma pessoa muito empolgada e quer que tudo aconteça. É a alma da escola!

Sincodiv-SP Online: O Carnaval costuma marcar novidades musicais, tecnológicas e etc. Como se dá a busca por essas inovações?

Murilo Lobo: Ela vem de várias fontes. Como carnavalesco, devo estar aberto a tudo e tentar absorver o máximo de coisas, mesmo que não estejam intimamente relacionadas à escola. Teatros, shows, cinema, exposições, notícias. Qualquer coisa pode ser interessante, útil ou despertar uma novidade em sua aplicação. Muitas vezes guardo uma ideia por anos antes de descobrir onde encaixá-la. Esse ano, por exemplo, traremos um painel de LED sobre um de nossos carros alegóricos, além de efeitos especiais.

Na parte tecnológica, desde o ano passado, disponibilizamos um aplicativo (Peruche no Carnaval) que traz todo o histórico e significado de nosso samba-enredo, fantasias, pesquisa e tudo o mais para dar ao folião uma noção de toda a história que estamos contando e que, muitas vezes, durante a apresentação, não é possível absorver no local ou pela cobertura televisiva.

Além disso, recebemos contribuições de fora. Muita gente nos procura com novas ideias ou oferecendo serviços e coisas novas. Sabendo filtrar, tudo pode ter uma bela aplicação.

O mais importante é entender que o Carnaval é mais que apenas uma festa musical, ele tem todo um trabalho de educação, estudo, história e iconografia por trás. As possibilidades e o repertório são praticamente infinitos.

Sincodiv-SP Online: Qual é a diferença do Carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo?

Murilo Lobo: Existem algumas, mas não é uma questão de serem boas ou ruins, são aspectos diferentes. Não podemos negar que o Rio de Janeiro é o berço do samba e que, portanto, tem muito mais tradição nessa arte, aliada ao Carnaval, mas São Paulo vem crescendo num ritmo muito intenso. É necessário notar também que, lá no Rio, a verba destinada ao Carnaval não é municipal e sim estadual, portanto maior.

Em questões técnicas, em São Paulo temos uma quantidade menor de alegorias. Entretanto, nossos carros alegóricos tendem a ser maiores por uma questão da estrutura da cidade, pois nossos pontilhões são mais altos, bem como temos mais espaço na concentração em nosso sambódromo. Enquanto a média de altura dos carros no Rio é de oito a nove metros, aqui alcançamos 15m, nesse ano, um de nossos carros tem 16m.

São duas festas distintas, mas ambas belas.

Sincodiv-SP Online: Este é seu terceiro ano na Unidos do Peruche, sendo que o samba-enredo é, novamente, de sua autoria. Qual é o tema e qual foi a inspiração para a criação?

Murilo Lobo: Faz muito tempo que quero cantar uma homenagem a Salvador. Muito já se falou do Carnaval baiano, mas não especificamente sobre Salvador. E nesse ano viremos com o enredo “A Peruche no maior axé exalta Salvador, cidade da Bahia, caldeirão de raças, cultura, fé e alegria”.

Para isso, começamos com uma história/lenda (contada por Jorge Amado) de um português que naufraga na Praia Vermelha, em Salvador, e se encontra com índios tupinambás, que eram canibais. Para não morrer, ele, com seu mosquetão, faz um disparo e mata um pássaro, fazendo com que os índios o saúdem como Caramuru, o deus do trovão.

Eles concedem uma índia (Paraguaçu) da tribo para servi-lo e ele se casa com ela, leva-a para a corte francesa, onde se converte ao cristianismo e é batizada como Catarina do Brasil. Casado com ela, já de volta ao Brasil, eles têm 18 filhos e começam a gerar as famílias brasileiras.

A história conta ainda que Moema, irmã de Paraguaçu, amava muito o “cunhado” e que, quando vê os dois partirem para a corte francesa, vai a nado atrás do navio. Quando a embarcação some no horizonte, ela se entrega ao mar, se misturando às conchas, às águas e ao reflexo das estrelas. É por isso que o mar da Bahia fica para sempre iluminado de ouro e prata, em homenagem a esse amor.

Abrimos nosso desfile assim, com nosso abre-alas de cerca de 48m de comprimento e 16m de altura, a “muralha verde” de Salvador onde, atualmente, está localizado o elevador Lacerda.

A seguir, falamos da formação do povo, com uma mistura de portugueses, índios, corsários de diversos países e, posteriormente os negros, que foram essenciais na cultura baiana, pois, ao se recusarem a esquecer seus costumes africanos, enriqueceram os daqui e é muito por isso que Salvador tem essa mistura incrível de raças e religiões convivendo pacificamente.

Sincodiv-SP Online: Nem sempre pacífica a cidade foi, porém…

Murilo Lobo: Não! E contamos isso falando da terra de fortes, nosso carro que traz a luta daquele povo. No Sudeste tendemos a comemorar a independência do Brasil em 07 de setembro como se os portugueses tivessem se retirado do país, mas, na verdade, eles se aquartelaram em Salvador, no Nordeste, porque queriam repartir o Brasil. Mas é o povo caboclo, já misturado, que vai pegar em armas e expulsar esses portugueses. Para eles, a independência da Bahia e do Brasil é marcada, assim, em 02 de julho.

Interessante destacar três grandes ícones essenciais para a vitória brasileira, Maria Filipa de Oliveira, que se travestiu de homem para lutar; Maria Quitéria, primeira soldada oficial brasileira; e Joana Angélica, religiosa que morreu defendendo o convento da Lapa, em Salvador, contra os soldados portugueses. Essas três figuras demonstram a importância e participação das mulheres na história.

Nesse carro, trago o caboclo, símbolo máximo da festa cívica de Salvador que, em 02 de julho, comemora essa história, mostrando a figura do próprio caboclo apunhalando um dragão, que representa a arrogância portuguesa. Por isso, nossa escola trará os caboclos, as mulheres, a muralha verde e até mesmo o dragão. Além de um carro com 84 crianças representando a comunhão religiosa que há em Salvador.

Sincodiv-SP Online: E quanto àquelas outras figuras que parecem músicos, e aquela construção com casas (estruturas altíssimas sobre um dos carros)?

Murilo Lobo: Faremos homenagem ao caldeirão de raças, religiões e chegaremos ao Pelourinho, local no qual, a partir de tanto sangue derramado, hoje brota cultura. Essa construção com casas que você vê é o próprio Pelourinho, carro que contará com cerca de 120 atores sobre ele. Encerrando o caldeirão de culturas, teremos, a seguir, o de alegria, que conta a história do Carnaval baiano.

Sincodiv-SP Online: E como nasceu esse Carnaval de rua tão diferente e gigante?

Murilo Lobo: Esses músicos caricaturizados fazem parte deste trecho. Antigamente, a festa popular incluía brincadeiras como jogar farinha nas pessoas, mas a elite da época proibiu o festejo e o Carnaval de rua se resumiu, por um tempo, à população mais simples nas calçadas tendo de assistir a um desfile pomposo da elite pelas ruas, porém sem alegria ou música contagiante. Eles usavam aquelas fantasias carregadas, bem europeias, sem conexão com a Bahia.

Dodô (Adolfo Antônio Nascimento) e Osmar (Osmar Álvares Macedo) eram estudantes de música buscando formas de amplificação de som e, na década de 1940, conseguiram eliminar a caixa acústica de um violão, captando o som diretamente das cordas, dando origem à guitarra baiana, chamado de algo como “pau elétrico”. Em 1950, eles prepararam um carro (um Ford 29) com uma espécie de alto-falantes, mais parecidos com megafones, e foram para um dos corsos comemorar o Carnaval.

Chegando lá, ninguém queria deixá-los entrar, pois não era o padrão da festa. Mas tanto insistiram que um dos guardas permitiu sua passagem e eles, então, com seus “paus elétricos” plugados às caixas de som, iniciaram uma alegre música. O povo ficou enlouquecido e invadiu a rua, acompanhando, pulando e dançando ao lado do Ford 29. Esse formato, que hoje é conhecido como trio elétrico, passou a ser assim chamado no ano seguinte, em 1951, quando Temístocles Aragão se uniu à dupla. O “trio” se referia aos músicos e não ao veículo, como hoje se faz.

Fato curioso diz que, naquele primeiro dia, após cerca de três horas de música e folia, Dodô disse ao motorista do carro: “vamos parar, estamos exaustos”. Ao que ele respondeu: “já acabou a embreagem, o freio, o motor. Quem está nos levando agora é o povo e não o carro!” (risos).

Sincodiv-SP Online: Então o caldeirão de alegria se encerra trazendo o início do Carnaval baiano?

Murilo Lobo: Sim, junto a uma homenagem a blocos incríveis que fundamentam não só um trabalho cultural de música, mas também fazem um resgate de negritude, de educação e atuação social. São eles: Filhos de Gandhy, Ilê Aiê, Olodum e Timbalada.

O trabalho desses blocos é muito importante para desenvolver a autoestima de muitas crianças em comunidades carentes. Eles, até hoje, têm de atuar contra o estigma de que o negro é “feio, tem o cabelo ruim e é fedido”. Tais blocos tentam reviver a grandiosidade dos negros e, para isso, fazem trabalhos belíssimos, educativos e históricos – como, por exemplo, o Olodum que canta à dinastia dos faraós negros. É um trabalho que vai além do Carnaval, mudando a vida das pessoas.

Para completar esse quadro, nossa bateria vai homenagear Carlinhos Brown que, além de um grande músico, é um ser humano incrível que atua pela comunidade e tem um trabalho social empoderador que faz desde projetos para rebocar casas até resolvendo questões de saneamento básico.

Sincodiv-SP Online: E qual é a mensagem que o Murilo Lobo quer passar para as pessoas sobre a festa?

Murilo Lobo: O meu desejo é que as pessoas possam conhecer um pouco mais sobre o Carnaval, sobre as escolas de samba, notando que a festa traz envolvimento e comunhão, relembra nossas histórias, lendas, “nos resgata”, por assim dizer.

E gostaria de convidá-las para virem participar, sentir a pulsação desse espetáculo, porque ainda percebo que as pessoas conhecem pouco a respeito. Vejo que apenas muito recentemente as pessoas em São Paulo decidiram participar do Carnaval em vez de viajarem para longe.

Espero que o povo paulista abrace a nossa cultura para construirmos, cada vez mais, um Carnaval grandioso.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Entrevista realizada e redigida por Renan De Simone, editada por Matheus Medeiros. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online em fevereiro de 2017.

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