Renan De Simone

As apostas políticas e econômicas para 2018 (março/2018)

Vera Magalhães, jornalista especializada na cobertura de política e economia e radialista da Jovem Pan, e Ricardo Amorim, jornalista e economista, estiveram reunidos em evento* voltado ao varejo e palestraram sobre os rumos políticos e econômicos do Brasil, oferecendo um panorama do que se pode esperar para os próximos meses e até anos.

Segundo Vera, a recuperação econômica é lenta, mas já se reflete no consumo de bens duráveis e deve ser maior neste ano do que em 2017, podendo alcançar ou passar um pouco de 3%. Amorim já é mais otimista quando ao país.

De acordo com ele, “enquanto todos estão preocupados com o Brasil, eu me preocupo com EUA e Ásia, pois acredito que o movimento de melhora seguirá crescendo aqui no país, mas a recuperação econômica dos EUA em relação à crise de 2008 já dura cerca de oito anos e eles entram agora no ciclo de elevar mais uma vez as taxas de juros dos bancos para controlar concessão de crédito e consumo, e esse pode ser um novo gatilho para futuros problemas”.

Isso porque, de acordo com Amorim, a economia é cíclica e funciona como um transatlântico e, portanto, para que ela dê uma forte guinada, seja para o lado que for, é necessário muito e consistente esforço.

“O governo Dilma, por exemplo, levou cerca de cinco anos para instaurar problemas econômicos profundos, o de Temer tenta recuperar esse cenário desde 2016, tomando fortes medidas. Agora que começou a se mover, a economia brasileira demorará para interromper seu movimento de subida, ou será necessário muito esforço no sentido oposto o que, ao que parece, nenhum dos presidenciáveis deste ano faria. Eu acredito numa média de crescimento de 5% durante a retomada brasileira como um todo”.

Cenário político

A respeito dos presidenciáveis, Vera esclarece que o atual presidente Michel Temer conta com baixa popularidade, menos de 10% de aprovação, mas pode chegar a pensar em reeleição. “No entanto, por ser improvável que ganhe, deve indicar ou apoiar alguém. Isso colocaria o chamado ‘centrão’ com um candidato apenas e esse pode vir a ser o próprio Geraldo Alckmin, atual governador de São Paulo”.

A jornalista afirma que Lula dificilmente conseguirá ser candidato em outubro por conta da “Lei da Ficha Limpa”, pois foi condenado em 2ª instância, e o PT (Partido dos Trabalhadores) se debate agora para encontrar um plano B que não possui.

“Podem considerar o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ou mesmo Jaques Wagner, mas as denúncias recentes contra este último dificultam sua consideração. O mais difícil será unir a esquerda no Brasil. Tirando a figura de Lula, que é forte, mas deverá estar fora de jogo, não há unanimidade”.

Para Vera, Ciro Gomes e Marina Silva tentarão angariar esses votos “órfãos” que estarão à deriva pela saída de Lula, mas, em geral, 2018 terá eleições diferentes das passadas, que eram marcadas pela dicotomia entre PT e PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) e esse enfraquecimento de dualidade atrai diversos e todo tipo de candidato, “então podemos ter surpresas também, como o próprio Temer querer competir com Alckmin em vez de a ele se aliar”.

“De qualquer forma”, alertou a jornalista, “o candidato que vier terá de enfrentar as reformas a serem feitas e terá de apresentar projetos e agendas políticas plausíveis e realistas”.

Ela cita a reforma tributária, a qual afeta pesadamente o setor varejista, e a reforma da previdência, além do tema das privatizações/concessões, que também deverá estar na pauta de uma política econômica que vise o equilíbrio financeiro e administrativo do Estado brasileiro.

“Deve-se admitir que nos últimos tempos há uma crescente impaciência com a política e uma busca por algo novo, fora dessas cartas marcadas e conhecidas, isso leva a que pessoas de fora da política ou figuras discutíveis, como Jair Bolsonaro, por exemplo, arrisquem-se no plano presidencial. No entanto, é necessário lembrar que fora das grandes capitais, o Brasil não é tão conectado online e, assim, tempo de rádio e TV ainda farão grande diferença na disputa, o que colocaria o Bolsonaro com uma votação bem baixa”.

Vera diz ainda que “há dois caminhos: podemos eleger alguém racional e que pense nas reformas ou apostar no populismo, o que pode ser perigoso e ir contra o que se conquistou de melhorias até agora”. De uma maneira ou de outra, ela avisa, “os presidentes que não quiserem se articular com o Congresso tendem a cair mesmo depois de eleitos, como Collor e Dilma”. Então, o diálogo marcará toda a política futura.

Escândalo político maior

Para Amorim, as únicas duas chances de o curso de melhora ser interrompido num curto prazo será um escândalo político maior do que os que já tivemos até então – “o que parece difícil pelas proporções tomadas até agora, mas este é um país onde não se deve duvidar de nada – ou uma crise externa que nos afete. E essa é minha preocupação com EUA e Ásia, em especial China e Coreia do Norte”.

Olhando especificamente para os países emergentes, Amorim afirma que a administração do governo Dilma complicou as coisas. Isso nos levou a ter um crescimento, nos últimos anos, que só não foi pior que o da Venezuela na América Latina, enquanto os emergentes continuam surfando numa boa onda de crescimento.

O economista diz que “ainda podemos aproveitá-la da forma como estamos nos reconduzindo à recuperação.  Os próximos anos, em termos de crescimento brasileiro, serão mais parecidos com o período Lula do que com o da Dilma. E devemos, cada vez mais, fortalecer indústria e varejo juntos, pois esse sim é um modelo mais sustentável”.

Oportunidade e atitude

Para o país como um todo, Amorim lembra que cerca de 40% da área mundial não protegida e que é passível de plantio se encontra no Brasil. Aliado a isso, temos a China em ascensão e consumindo mais commodities brasileiras e esse é o motivo pelo qual, desde 2001, as cidades do interior crescem mais do que as capitais, e elas são impulsionadas pelo agronegócio.

Esse quadro permite a ele afirmar que, “com algumas flutuações, temos mais uns 30 anos de média de crescimento para essa área para o nosso país. E é preciso lembrar que crise não traz oportunidade e, sim, problema. O que faço depois disso é que é a questão. A crise manda um recado e quem cria a oportunidade é você”.

Como alerta final, Amorim pontua que, como a economia é cíclica, estamos na melhor fase de oportunidade, pois a tendência ainda não se formou e “quem fizer apostas agora encontra um mercado com pouca competição”.

*Ambos estiveram reunidos com empresários e executivos durante o 1º Super Fórum, evento do varejo organizado pela DMCard em 2018 e baseado no Big Show da NRF (National Retail Federation) dos EUA.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.

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