Vera Magalhães, jornalista especializada na cobertura de política e economia e radialista da Jovem Pan, e Ricardo Amorim, jornalista e economista, estiveram reunidos em evento* voltado ao varejo e palestraram sobre os rumos políticos e econômicos do Brasil, oferecendo um panorama do que se pode esperar para os próximos meses e até anos.
Segundo Vera, a recuperação econômica é lenta, mas já se reflete no consumo de bens duráveis e deve ser maior neste ano do que em 2017, podendo alcançar ou passar um pouco de 3%. Amorim já é mais otimista quando ao país.
De acordo com ele, “enquanto todos estão preocupados com o Brasil, eu me preocupo com EUA e Ásia, pois acredito que o movimento de melhora seguirá crescendo aqui no país, mas a recuperação econômica dos EUA em relação à crise de 2008 já dura cerca de oito anos e eles entram agora no ciclo de elevar mais uma vez as taxas de juros dos bancos para controlar concessão de crédito e consumo, e esse pode ser um novo gatilho para futuros problemas”.
Isso porque, de acordo com Amorim, a economia é cíclica e funciona como um transatlântico e, portanto, para que ela dê uma forte guinada, seja para o lado que for, é necessário muito e consistente esforço.
“O governo Dilma, por exemplo, levou cerca de cinco anos para instaurar problemas econômicos profundos, o de Temer tenta recuperar esse cenário desde 2016, tomando fortes medidas. Agora que começou a se mover, a economia brasileira demorará para interromper seu movimento de subida, ou será necessário muito esforço no sentido oposto o que, ao que parece, nenhum dos presidenciáveis deste ano faria. Eu acredito numa média de crescimento de 5% durante a retomada brasileira como um todo”.
Cenário político
A respeito dos presidenciáveis, Vera esclarece que o atual presidente Michel Temer conta com baixa popularidade, menos de 10% de aprovação, mas pode chegar a pensar em reeleição. “No entanto, por ser improvável que ganhe, deve indicar ou apoiar alguém. Isso colocaria o chamado centrão com um candidato apenas e esse pode vir a ser o próprio Geraldo Alckmin, atual governador de São Paulo”.
A jornalista afirma que Lula dificilmente conseguirá ser candidato em outubro por conta da “Lei da Ficha Limpa”, pois foi condenado em 2ª instância, e o PT (Partido dos Trabalhadores) se debate agora para encontrar um plano B que não possui.
“Podem considerar o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ou mesmo Jaques Wagner, mas as denúncias recentes contra este último dificultam sua consideração. O mais difícil será unir a esquerda no Brasil. Tirando a figura de Lula, que é forte, mas deverá estar fora de jogo, não há unanimidade”.
Para Vera, Ciro Gomes e Marina Silva tentarão angariar esses votos “órfãos” que estarão à deriva pela saída de Lula, mas, em geral, 2018 terá eleições diferentes das passadas, que eram marcadas pela dicotomia entre PT e PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) e esse enfraquecimento de dualidade atrai diversos e todo tipo de candidato, “então podemos ter surpresas também, como o próprio Temer querer competir com Alckmin em vez de a ele se aliar”.
“De qualquer forma”, alertou a jornalista, “o candidato que vier terá de enfrentar as reformas a serem feitas e terá de apresentar projetos e agendas políticas plausíveis e realistas”.
Ela cita a reforma tributária, a qual afeta pesadamente o setor varejista, e a reforma da previdência, além do tema das privatizações/concessões, que também deverá estar na pauta de uma política econômica que vise o equilíbrio financeiro e administrativo do Estado brasileiro.
“Deve-se admitir que nos últimos tempos há uma crescente impaciência com a política e uma busca por algo novo, fora dessas cartas marcadas e conhecidas, isso leva a que pessoas de fora da política ou figuras discutíveis, como Jair Bolsonaro, por exemplo, arrisquem-se no plano presidencial. No entanto, é necessário lembrar que fora das grandes capitais, o Brasil não é tão conectado online e, assim, tempo de rádio e TV ainda farão grande diferença na disputa, o que colocaria o Bolsonaro com uma votação bem baixa”.
Vera diz ainda que “há dois caminhos: podemos eleger alguém racional e que pense nas reformas ou apostar no populismo, o que pode ser perigoso e ir contra o que se conquistou de melhorias até agora”. De uma maneira ou de outra, ela avisa, “os presidentes que não quiserem se articular com o Congresso tendem a cair mesmo depois de eleitos, como Collor e Dilma”. Então, o diálogo marcará toda a política futura.
Escândalo político maior
Para Amorim, as únicas duas chances de o curso de melhora ser interrompido num curto prazo será um escândalo político maior do que os que já tivemos até então “o que parece difícil pelas proporções tomadas até agora, mas este é um país onde não se deve duvidar de nada ou uma crise externa que nos afete. E essa é minha preocupação com EUA e Ásia, em especial China e Coreia do Norte”.
Olhando especificamente para os países emergentes, Amorim afirma que a administração do governo Dilma complicou as coisas. Isso nos levou a ter um crescimento, nos últimos anos, que só não foi pior que o da Venezuela na América Latina, enquanto os emergentes continuam surfando numa boa onda de crescimento.
O economista diz que “ainda podemos aproveitá-la da forma como estamos nos reconduzindo à recuperação. Os próximos anos, em termos de crescimento brasileiro, serão mais parecidos com o período Lula do que com o da Dilma. E devemos, cada vez mais, fortalecer indústria e varejo juntos, pois esse sim é um modelo mais sustentável”.
Oportunidade e atitude
Para o país como um todo, Amorim lembra que cerca de 40% da área mundial não protegida e que é passível de plantio se encontra no Brasil. Aliado a isso, temos a China em ascensão e consumindo mais commodities brasileiras e esse é o motivo pelo qual, desde 2001, as cidades do interior crescem mais do que as capitais, e elas são impulsionadas pelo agronegócio.
Esse quadro permite a ele afirmar que, “com algumas flutuações, temos mais uns 30 anos de média de crescimento para essa área para o nosso país. E é preciso lembrar que crise não traz oportunidade e, sim, problema. O que faço depois disso é que é a questão. A crise manda um recado e quem cria a oportunidade é você”.
Como alerta final, Amorim pontua que, como a economia é cíclica, estamos na melhor fase de oportunidade, pois a tendência ainda não se formou e “quem fizer apostas agora encontra um mercado com pouca competição”.
*Ambos estiveram reunidos com empresários e executivos durante o 1º Super Fórum, evento do varejo organizado pela DMCard em 2018 e baseado no Big Show da NRF (National Retail Federation) dos EUA.
Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.
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