Renan De Simone

Biomassa e gás natural, fontes complementares que devem caminhar juntas (setembro/2017)

Participando do Fórum Cogen/CanalEnergia de Geração Distribuída e Cogeração, autoridades e especialistas na área de energia fizeram um evento em que o tom foi a complementariedade. Tanto de matrizes energéticas como de trabalho conjunto de empresas, poder público e órgãos reguladores.

Para falar em nome do governador do estado de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, secretário de Energia e Mineração, defende a complementariedade e diversificação de fontes e afirma que “temos de levar o gás para as usinas de biomassa para fortalecê-las e complementar tal fonte.”

Segundo ele, gasta-se de quatro a cinco litros de diesel, apenas, para produzir uma tonelada de cana-de-açúcar, produto que gera, ainda, o etanol e o bagaço para queima. “Está na hora de pensar nessa matriz.”

Vantagens da cogeração

A afirmação do secretário faz mais sentido ainda quando aliada à de José Waldir Ferrari, diretor técnico comercial da Gás Brasiliano. Ele pontua que se transformarmos as usinas de cana-de-açúcar em usinas híbridas, ou seja, adicionando um input de gás natural para a geração térmica, o ganho é enorme.

“Dentro da área de concessão da empresa há 140 usinas de cana-de-açúcar, as quais 51 delas estão conectadas ao SIN (Sistema Interligado Nacional). Elas podem gerar energia a partir da biomassa durante o ano todo se forem utilizadas como usinas híbridas, com a adição do gás natural.”

Apenas para se ter uma ideia, coloca Ferrari, para cada tonelada de cana, é possível gerar 61 KW/h de energia. Se a essa fonte for adicionado o input térmico a gás natural, a mesma usina geraria 113 KW/h com a mesma tonelada de cana. “A ideia é produtiva, pois para executar esse acréscimo não são necessárias grandes mudanças estruturais na usina e a inserção do gás na cadeia tem um custo médio de 14% a mais apenas (alcançando o máximo de 15% na entressafra), porém quase dobrando a produção de energia.”

Para ele, o grande desafio da biomassa atualmente é como conectar as usinas ao SIN, uma vez que a energia precisa percorrer grandes distâncias.

Ganhos extras

Pedro Mitzutani, vice-presidente de Relações Externas e Estratégia da Raízen, empresa parte do grupo Cosan, destaca ainda outros ganhos a partir do incentivo a cogeração através da biomassa.

O executivo conta que, quando há leilões de usinas, as externalidades positivas – como produzir próximo ao ponto de consumo, menor emissão de gases, produção em período de seca, etc. – precisam ser levadas em conta para que o preço desses empreendimentos fique competitivo. “Nós produzimos cana-de-açúcar o suficiente para ter algo em torno de 60 milhões de toneladas de biomassa, o que geraria energia tal qual uma Itaipu.”

Além disso, para que o gás se confirme como opção competitiva, é necessário mudar a visão brasileira, que é totalmente voltada à geração hídrica (ainda a maior do país). “É preciso equilibrar também a questão do risco hidrológico, pois o PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) não dá incentivos para energia excedente”, completa ele.

A pergunta que se destaca, então é: como avançar para um novo modelo sem destruir o que já se tem investido atualmente? Responder a isso é alcançar certa sustentabilidade e estabilidade. E parece que todos os agentes envolvidos com a questão da energia em suas diversas esferas terão de atuar juntos para encontrar a melhor resposta, que não vai na direção de uma empresa ou uma matriz, mas sim do país.

Como pontua Elizabeth Maria Mercier Querido Farina, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), “vivemos hoje um momento raro de possibilidades para definir estratégias e nos anteciparmos às mudanças. Se soubermos aproveitar, podemos avançar muito!”

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Matheus Medeiros. Publicado pelo site do SindiEnergia Comunica.

Para acessar a publicação original, clique aqui: http://www.sindienergia.org.br/noticia.asp?cod_not=4113