Renan De Simone

Sobre homens e empresas (março/2011)

Dizem os médicos, já desde os gregos, que a saúde intacta e o bom estado do corpo são definidos pelo desempenho do mesmo. O homem saudável é aquele que, podendo correr 5 Km, corre os exatos 5 Km.

Nossas empresas são como organismos vivos e, portanto, poderíamos aplicar a mesma regra. Uma empresa saudável é aquela que, podendo produzir X, produz X. Algo fora disso é chamado de sintoma, ou seja, algo que indica um erro, ou melhor, um mau funcionamento da empresa/organismo.

Nessas afirmações moram algumas pegadinhas e perigos. A primeira delas é que um corpo saudável é aquele que podendo correr 5 Km, corre 5 Km… mas não todos os dias, caso contrário morrerá de esgotamento.

Aí alguém trará um atleta à luz dos holofotes e dirá, “ele corre!” Pois é, mas um atleta capaz de correr a São Silvestre não percorre essa distância todos os dias de sua vida, pelo menos não na mesma velocidade na qual competirá.

Estresse faz bem?!

O professor e treinador Nuno Cobra afirma que o estresse (nossa capacidade de quebrar limites cotidianos) faz bem e nos dá visão de novas possibilidades, mas afirma também que viver nesse estado continuamente faz o organismo se deteriorar rápido. É como um automóvel usando a capacidade máxima de seu motor (com turbo) durante todo o tempo. Nossas empresas funcionam da mesma forma, podem se sobreaquecer num sentido ruim e pifar.

Em primeiro lugar, produzir mais não significa que tudo será aproveitado, o escoamento da produção ou de serviços prestados depende de momentos muito específicos de mercado e diversos outros fatores, muitos deles imensuráveis.

Em segundo lugar, trabalhar no limite máximo sempre, sem mudanças na estrutura (não só física, mas no corpo de funcionários também) só servirá para a empresa se tornar menos atrativa e enlouquecer seus profissionais. Hora extra não faz mal a ninguém de vez em quando, mas quando a rotina é hora extra e o anormal é o horário regular, algo está errado.

Sustentabilidade

Aproveitando a época de conceito sustentável em que vivemos, vamos reutilizar a analogia do organismo. Um corpo que corre 10 Km todos os dias sem exaustão não pode ser considerado um organismo preparado apenas para correr essa medida. Na verdade, durante o tempo que demorou a alcançar este estágio, o corpo aumentou seus músculos, se livrou de gordura excessiva, melhorou sua circulação e respiração e hoje está preparado para correr 20 Km, por isso consegue correr 10 deles todos os dias. Houve uma mudança estrutural.

Outro perigo embutido no conceito é o que eu chamo de péssima conjugação verbal. Explico. Quando você força a empresa a um estresse intenso, sem previsão de fim, por longo período, deve saber que nem todos ali entram no ritmo e, contando com X pessoas, por exemplo, apenas Y (que é menor que X, nesse caso) atuam, levando a um esgotamento mais rápido e sobrecarga destes.

Ainda como num corpo, durante a corrida, suas pernas tendem a terminar a atividade bem mais exauridas que seus braços, por exemplo. É uma péssima conjugação verbal de “Eu trabalho. Tu trabalhas. Ele descansa”.

E já que começamos com os gregos, encerremos com eles. O ideal é sempre o equilíbrio entre o esforço, desenvolvimento e até o descanso (não durante o período de esforço, claro). Corpo são, mente sã. A máxima grega traduzida para o nosso tempo: Profissional são, empresa sã… e lucrativa!