Renan De Simone

Felicidade nas Empresas: Reconhecer o diferencial humano nas organizações é o desafio neste momento (março/2018)

Dando continuidade à série especial Felicidade nas Empresas, conversamos com Armando Ribeiro, psicólogo e consultor em Gestão do Estresse, Bem-Estar e Qualidade de Vida no Trabalho, para tratar da questão organizacional.

Ele, que tem MBA em Saúde Ocupacional pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e treinamentos em Gestão do Estresse e Resiliência pela Harvard Medical School (EUA), falou com o Sincodiv-SP Online sobre liderança, ambientes tóxicos e como transformar sua empresa em um verdadeiro e acolhedor lar.

O psicólogo é enfático ao afirmar, “a felicidade dentro da empresa é lucro, mas a infelicidade afeta a saúde do trabalhador e o resultado financeiro das empresas. Funcionários felizes tendem a ser três vezes mais produtivos, são mais criativos e colaborativos”.

Líderes

Para Ribeiro, os líderes podem criar ambientes de trabalho tóxicos e estressantes a suas equipes e funcionários. Ele diz que o clima organizacional é reflexo do estilo de liderança e cultura da empresa e, assim, os líderes devem se conscientizar do seu papel fundamental na criação de ambientes emocionalmente saudáveis.

Segundo conta, muitos deles acreditam que uma gestão punitiva, “linha dura”, pode aumentar a produtividade da equipe, mas isso é apenas no curto prazo e com um alto custo para a moral do time. “A produtividade, o engajamento do trabalhador nos processos da organização estão ligados a uma gestão emocionalmente saudável. A longo prazo, uma gestão tóxica pode acabar com a produtividade e a criatividade da organização, aumentando a rotatividade e o absenteísmo dos colaboradores”, pontua.

Ribeiro descreve que o ambiente de trabalho emocionalmente saudável é resultado do desenvolvimento dos líderes e gestores nas competências socioemocionais (também conhecidas como “soft skills”).

“A inteligência emocional é cada vez mais essencial para quem ocupa o cargo de liderança, mas é um dos fatores ainda desprezados por diversos profissionais que buscam apenas o desenvolvimento das competências técnicas de suas áreas”, diz. Então, o líder precisa desenvolver as “soft skills”, que incluem diversas competências relacionais, tais como: autoconhecimento, empatia, trabalho em equipe, comunicação, gestão do estresse e etc.

Ambiente físico, como ser um lar?

“Cada organização precisa realizar um diagnóstico personalizado dos fatores que serão percebidos pelos seus colaboradores como indutores de bem-estar e qualidade de vida”, conta Ribeiro.

De acordo com ele, não adianta implantar soluções de outros ambientes (ex. escorregador, mesa de bilhar, vídeo game, etc.) se não conhecermos os anseios e necessidades dos nossos colaboradores. Como regra geral, o ambiente físico precisa ser ergonômico e amigável para os que ali trabalham.

Além da instalação de equipamentos especializados para o trabalho, o consultor chama a atenção para o ambiente que será utilizado. “Luz e ventilação naturais, janelas para ambientes verdes, decoração e arquitetura voltadas para maximizar o bem-estar e a qualidade de vida de todos. Quando os trabalhadores sentem que são bem cuidados, eles respondem com maior engajamento e produtividade”.

Assim, fica claro que investir no ambiente de sua empresa, visando o bem-estar, tem retorno direto na produtividade.

E nem tudo é dispendioso ou precisa de grandes reformas. Pequenas ações e atitudes já fazem a diferença. Presença de plantas, quadros com fotografias de familiares / viagens, espaço para o descanso, cores e mobiliário personalizado, entre outros.

É claro que grandes ações também são notadas, mas Ribeiro afirma que, no curto prazo, os detalhes serão percebidos pelos trabalhadores e criarão o caminho para uma empresa fazer mudanças mais complexas no seu ambiente e modo de gestão.

“O cuidado com o ambiente de trabalho (com a preservação dos móveis, pintura, limpeza e muito mais) refletirá na moral da equipe, promovendo mais motivação e produtividade”.

Quando perguntado se há alguma maneira de se medir o índice de felicidade dentro de uma empresa, assim como é medido o FIB (Felicidade Interna Bruta) pela ONU (Organização das Nações Unidas) – leia mais aqui: Felicidade nas Empresas: O que nossas organizações podem aprender com o modo Hygge dinamarquês de viver? –, Ribeiro conta que atualmente existem questionários cientificamente embasados que podem avaliar o grau de satisfação e bem-estar dos funcionários com relação ao trabalho e à empresa.

Como consultor organizacional, uma de suas primeiras tarefas é realizar um diagnóstico comportamental dos fatores humanos nas organizações que vão ajudar a nortear as estratégias e mapear as mudanças ocorridas. “A felicidade dentro da empresa é lucro, mas a infelicidade é tóxica para os trabalhadores e também para os negócios”.

Segundo relata o psicólogo, nosso país ainda está atrasado quanto à aplicação de estratégias comportamentais na abordagem dos fatores humanos nas organizações. “Temos os melhores equipamentos, mas ainda deixamos o desenvolvimento de pessoas à mercê de algumas práticas da “moda” e pouco embasadas cientificamente”, o que desgasta os profissionais e as relações.

Atuação integrada

Entre as categorias do índice de felicidade da ONU, podemos encontrar: bem-estar psicológico, que analisa autoestima e estresse; saúde; tempo (trânsito, divisão das horas entre o trabalho, atividades de lazer e educacionais, etc.); relacionamento, que verifica segurança dentro da comunidade e sensação de pertencimento.

Educação; padrão de vida, analisa renda familiar e individual, seguridade nas finanças, dívidas e qualidade habitacional; são outros critérios do indicador que cabem às organizações.

Ribeiro destaca que é possível, para empresa e seus líderes, atuar para melhorar o panorama nestes quesitos. “É necessário mapear o clima organizacional e desenvolver, através de uma estreita parceria com o departamento de Gestão de Pessoas, estratégias para a formação de líderes pautados na criação de ambientes emocionalmente saudáveis”.

Como pontua ele, a Gestão de Pessoas precisa ser estratégica nas organizações, e não apenas voltada a processos como folha de pagamento, contratação/demissão e outras. “Isso é insuficiente em um contexto em que o capital humano se torna cada vez mais importante”.

Mas, afinal, como medir a evolução da empresa no âmbito da felicidade dentro da corporação?

“É possível construir indicadores para o bem-estar e a qualidade de vida no trabalho, aliás, é imprescindível mapear os fatores humanos nas organizações do século XXI. Não podemos apenas basear nossas decisões em “big data”. Reconhecer o diferencial humano nas organizações é o desafio neste momento”, enfatiza.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.

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