Renan De Simone

Mario Sergio Cortella – Liderança em tempos de muitas e rápidas transformações (maio/2010)

Liderar é gerir pessoas e, dizem, esta ação fica mais difícil a cada dia, especialmente num mundo que tanto se transforma, onde são ressaltadas as diversas mudanças e a vida parece ser permeada por tragédias. Isso, sem contar a velocidade em que tudo ocorre.

A esse respeito, Mario Sergio Cortella, filósofo, mestre, doutor e docente na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) há 32 anos, fala com propriedade e lança um olhar diferente sobre as situações. De acordo com ele, “alguns pontos podem parecer óbvios, mas é sempre bom reforçar que o ‘coqueiro dá coco’”.

Cortella foi Assessor Especial e chefe de Gabinete do professor Paulo Freire, na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1989-1991), a quem substituiu no cargo de Secretário (1991-1992). É também autor de diversos livros, entre eles: Não espere pelo epitáfio: provocações filosóficas; Não nascemos prontos!; e Qual é a tua obra?: inquietações  propositivas sobre gestão, liderança e ética.

Palestrante do Fórum de Gestão e Liderança 2010, organizado pela HSM Management, o professor mostrou que uma época de cenários turbulentos e transformações velozes não é exclusividade de nosso tempo.

“O mundo sempre teve de lidar com mudanças. A Terra já foi o centro do universo, o Homem já foi o centro da natureza, a alma já foi o centro do homem, mas tudo isso se alterou. Galileu provou que a Terra não era o centro do universo, Darwin colocou o Homem lado a lado com os macacos, e Freud disse que o que nos comanda não é a alma e sim uma briga entre prazeres e deveres que ocorre em nosso subconsciente. Se você acha que uma mudança nos negócios mexe com sua vida, imagine o que ocorreu com as pessoas que viveram em tais épocas”, disse.

De acordo com o professor, as mudanças sempre foram turbulentas. “Se você analisar bem, todas as pessoas viveram no ‘mundo contemporâneo’, a diferença de nosso tempo é apenas a velocidade em que as coisas acontecem – visivelmente mais rápidas”.

Tragédias e dramas

A tendência de colocar as situações de risco como tragédias traz uma visão fatalista, e isso é muito ruim para os negócios, de acordo com Cortella, especialmente para os líderes. “As pessoas disseram que a crise financeira no final de 2008 foi uma tragédia. Isso está errado”.

Segundo ele, não se pode confundir tragédia com drama. Tragédia, palavra que provém do grego, especialmente do teatro, refere-se à manifestação dos deuses, ou seja, algo que os homens não podem interferir.

Já drama é consequência da ação. Para explicar, Cortella disse que na história de Adão e Eva, Deus lhes disse que podiam desfrutar de todo o paraíso, menos do fruto proibido, a maçã. A responsabilidade por terem comido a fruta e as consequências foi deles, por isso a história toda é um drama.

“A chuva é uma tragédia, mas os desmoronamentos que ela causa são dramas, consequências de construções irregulares e etc.”.

O professor ressaltou que pensar nos negócios como uma tragédia deixa todos com uma postura complacente, conformista, quando o que se deve fazer é pensar nas coisas como um drama, algo em que você pode interferir, tem responsabilidade e influência, uma situação que pode ser solucionada. “Não se pode ficar de braços cruzados, as situações não são tragédias e sim dramas, portanto atue, procure soluções”.

Qualificadas ou qualificantes?

Cortella pontuou que as empresas que quiserem sobreviver à velocidade de nossos tempos e progredir devem pensar nessa pergunta. Que tipo de empresa é a sua, qualificada ou qualificante?

Para o professor, como as competências são coletivas e nunca completas, as únicas empresas que conseguirão sobreviver são as qualificantes e não as qualificadas. “Pessoas não nascem completas, elas se constroem. Empresas feitas de pessoas também são assim, devem ser construídas. Aquelas que admitem essa condição, progridem, avançam”.

Outro fator primordial para permanecer num estado constante de qualificação é não dispensar o conhecimento adquirido.  “Não se pode subestimar aquilo que se acumulou, mas deve-se procurar aprender sempre, com elementos externos e internos”, contou.

No despontar da crise, muitas empresas realizaram cortes para manter sua margem de capital e acabaram dispensando funcionários que trabalhavam há 10 ou 15 anos ali. “O que elas não perceberam”, pontuou Cortella, “é que estavam perdendo 10, 15 anos de conhecimento acumulado, de investimentos em capacitação”. Agora, num momento em que o mercado ganha confiança e está absorvendo pessoas novamente, será necessário investir em novas pessoas.

“Muitas vezes o valor economizado com a dispensa daquele pessoal tornou-se prejuízo se comparado ao investimento feito e perdido, e aquele que deverá se realizar no novo pessoal”, concluiu Cortella.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.