Renan De Simone

Gestão e boa liderança: a diferença entre o saber e o fazer (abril/2011)

Por todos os lados se multiplicam os livros e guias direcionados à gestão de empresas e de como liderar bem as equipes. A liderança e boa gestão, voltada para pessoas, parece assunto repetido e, por vezes, óbvio. Então por que tanto sucesso faz o tema? Por que centenas de livros surgem e vendem nesse sentido?

“A Bíblia é o livro mais vendido e, teoricamente, o mais lido. Mesmo assim, as pessoas continuam a pecar”. Essa é a resposta de Robert Sutton, professor de Management Science da Stanford University e também líder do Center for Work, Technology and Organization dessa universidade. Autor de diversos livros, o especialista palestrou sobre o tema no Fórum de Gestão e Liderança, da HSM Management, em São Paulo. Para ele, o foco dessa discussão é a lacuna existente entre o saber e o fazer.

Sutton é Ph.D. em Psicologia Organizacional pela Universidade de Michigan e acredita que o conhecimento sem ação é inútil e só produz conversas vazias. “Muitas pessoas sabem o que há de errado, seja nas empresas ou em suas vidas, mas demoram a atuar sobre o problema. Agir tarde demais pode já não funcionar”.

Lições

Robert Sutton sugere alguns caminhos para melhorar a produtividade das organizações e líderes.

“Filosofia importa. E como!”, ressalta ele. Crenças e valores nos quais a empresa se baseia para guiar ações e tomar decisões são cruciais. Os colaboradores entendem a cultura da empresa observando sua filosofia. Os valores, no entanto, que são pregados e não seguidos, se tornam perigosos.

Se o aprendizado vem da prática, então não existe diferença entre o que você sabe e o que você faz. “Aprender dessa forma é a melhor maneira, tanto que é assim que treinam profissionais que lidam com vidas, como pilotos, cirurgiões e etc. Escute, veja e faça”, diz Sutton. O conhecimento em prática é a única forma de conhecer realmente.

Ele cita uma frase de Homer Simpson, famoso personagem de desenhos animados: a tentativa é o primeiro passo para o fracasso! “O que quero dizer é que, para se aprender na prática, alguns erros são necessários e não devem se tornar um martírio. O famoso óleo lubrificante WD-40, por exemplo, tem esse nome porque as 39 tentativas anteriores falharam, mas hoje o produto é um sucesso”.

Objetivos

Estabelecer metas e planos “cabeludos”, por assim dizer, é essencial para ampliar os horizontes da organização, de acordo com o palestrante. “No entanto, é preciso focar nos pequenos passos necessários para se alcançar tais objetivos”. Para ele, quando as pessoas pensam no alvo final, sem estabelecer os pequenos passos necessários para chegar até lá, o processo tende a se congelar e as pessoas surtam.

Deve-se desviar-se da armadilha da conversa inteligente. Falar, às vezes, substitui ações. Em algumas empresas, as pessoas são recompensadas por parecerem espertas e não por atitudes de inteligência. “Precisamos conectar fala e ação. Pare de reclamar e aja, melhore. Reclamar apenas rouba a energia de que precisamos para atuar”.

No entanto, Sutton pede para que os líderes sejam cautelosos. Coragem é uma espada de dois gumes, diz ele. “Ela é indispensável para os negócios, mas tenha a certeza de estar fazendo a coisa certa. Se nem você acredita no que faz, isso se chama burrice”.

Simplicidade em ação

Apenas a título de curiosidade, o palestrante apresentou uma ideia simples de diminuir o tempo gasto em reuniões, porém mantendo a mesma eficácia: reuniões onde as pessoas ficam de pé. “De acordo com pesquisas, os resultados são os mesmos, porém com mais agilidade no processo”. Segundo ele, as pessoas tendem até a saírem de encontros desse tipo mais propensas à ação.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.