Renan De Simone

Diversidade de fontes e compreensão do setor pela sociedade são respostas para enfrentar as dificuldades do setor (setembro/2015)

O setor de energia precisa deixar de ser lembrado apenas quando “falta luz”. Ele deve ser conhecido e entendido como um todo, apresentando, de forma clara, seus desafios e esforços para entregar um serviço/produto de qualidade.

Essa foi a mensagem da 16ª edição do Energy Summit que ocorreu em setembro, na capital paulista, reunindo autoridades e especialistas do setor. A pauta foi determinada pelas dificuldades enfrentadas, possíveis visões do futuro e como lidar com a situação atual. Fazer-se conhecer pela sociedade, obter seu apoio e investir na diversidade de fontes foi a resposta.

Diálogo

No evento, Raimundo Nonato Alencar de Castro, presidente da Celpa, defendeu a visão de que as empresas devem estar próximas das pessoas. “A sociedade toda deve conhecer a importância e o funcionamento do setor elétrico para o desenvolvimento do país”.

De acordo com ele, em trabalho realizado pela Celpa no estado do Pará, foi alcançado um ótimo resultado de aproximação com a sociedade e agentes do setor público e privado. “Desenvolvemos palestras em associações comerciais, visitamos setores públicos e fizemos conhecer nosso trabalho, o que melhorou o relacionamento e tornou processos difíceis, como aumento de tarifa, muito mais fáceis”.

Panorama

Das dificuldades enfrentadas pelo setor elétrico, as que mais se enfatizam são a crise hidrológica (baixa nos reservatórios das usinas, nossa principal fonte de geração) e o aumento da inadimplência (devido ao aumento das tarifas) nas faturas de conta de luz, o que afeta as distribuidoras de maneira mais intensa.

De acordo com as autoridades presentes no encontro, a pior fase dos não pagamentos ainda não foi vista, uma vez que o aumento das tarifas se deu no inverno e é agora, no final do ano, no verão, que o consumo aumenta, intensificando o quadro.

Nada a comemorar

Luiz Fernando de Moraes Torres, Assessor da Diretoria Técnica e Comercial da Celg, afirmou que a deficiência hidrológica dos reservatórios está sendo parcialmente atenuada pela queda no consumo. “Infelizmente, isso se dá, em especial, pela retração da indústria, devido à crise econômica que enfrentamos e isso não é positivo. E o dia de amanhã? Não há motivos para comemorar a baixa no consumo por esse viés”.

Segundo Torres, muitas decisões administrativas erradas foram tomadas, regulando de forma prejudicial o setor. “A retração na tarifa de poucos anos atrás, por exemplo, veio na contramão dos níveis e das previsões para os reservatórios, um erro que as empresas tiveram de enfrentar e hoje se vê reflexos disso no relacionamento das distribuidoras com os clientes”.

Evandro Leite Vasconcelos, diretor Comercial da Cemig, disse que o momento de crise é também de correção de erros e aprendizado para as empresas e o governo. “Devemos nos questionar quais serão as consequências das ações que tomamos neste momento. Tirar o risco da geração, por exemplo, e colocar sobre as distribuidoras é a melhor maneira de proceder? Em momentos difíceis, a dúvida é sempre a de se tomar decisões que não repercutam negativamente no futuro”, pontuou.

Agenda compartilhada

Frente os desafios, Paulo de Tarso Pinheiros Machado, presidente do grupo CEEE, disse que o setor precisa se unir para criar uma agenda conjunta e comum para lidar com as adversidades. “Devemos nos perguntar: o que queremos do setor elétrico? E só podemos responder com todos os agentes envolvidos”.

Machado colocou que os desafios de curto prazo giram em torno do crescente déficit tarifário; da necessidade de atração de novos capitais; e da sustentabilidade do negócio dos agentes na cadeia de valor de geração, transmissão e distribuição.

“A retração dos recursos liberados pelas instituições financeiras públicas, como o BNDES; e a queda dos investimentos pela redução do crédito e elevação abrupta das taxas de juros são os principais fatores de retração de investimentos, o que reduz a qualidade na entrega da energia”, complementou Machado, citando as barreiras que devem ser transpassadas.

Investimento e embargos ambientais

“A transmissão é a área que mais sofre com a escassez de capital porque não pode parar de investir”, ressaltou Solange Maria Pinto Ribeiro, presidente do grupo Neoenergia. Segundo ela, o Brasil ainda precisa de muito investimento, da geração à distribuição.

Investimentos difíceis de serem atraídos, pois, como colocou Reynaldo Passanezi Filho, presidente da Cteep, a maior questão brasileira ainda é a instabilidade regulatória, que afasta o capital estrangeiro ou eleva taxas de empréstimos do exterior.

Solange lembrou que o licenciamento ambiental é um problema para o setor e que, por vezes, os embargos desse tipo são infundados. “Não faz sentido, por exemplo, bloquear obras para reservatórios das hidrelétricas se vamos acabar utilizando geração térmica – mais poluente e cara”.

Torres, da Celg, lembrou que no país existem empreendimentos que aguardam liberação de aprovação ambiental há mais de 12 anos, o que prejudica toda a cadeia de desenvolvimento energético.

Futuro e possíveis cenários

Apesar de ressaltar o crescimento de outras fontes brasileiras de energia, para Vasconcelos, a principal ainda deve girar, por vários anos, em torno das hidrelétricas e térmicas. Por isso, ele acredita que o Brasil deve desenvolver uma política voltada para o gás. “Os EUA e Europa utilizam o gás na geração térmica como uma fonte mais barata e menos poluente que o óleo diesel. Se não houver uma política para o uso do gás aqui, o diesel ainda será nosso grande problema, pelo preço e por questões ambientais”.

Torres acredita que a saída da crise e a confiança para que o Brasil retome seu crescimento sem o medo da falta de energia, bem como a saúde das empresas, giram em torno do aprofundamento da geração distribuída e diversificação das fontes.

“A própria Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) sinaliza isso pelo seu foco recente, simplificando procedimentos de autorização e incentivos para CGH (Centrais Geradoras Hidrelétricas), PCH (Pequena Central Hidrelétrica), geração fotovoltaica e eólica, com vista ao compartilhamento de instalações”, ressaltou ele.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do SindiEnergia Comunica.

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