Renan De Simone

Atributos de um líder, por Rudolph Giuliani (março/2010)

Rudolph Giuliani, conhecido como “a rocha”, foi prefeito da cidade de Nova Iorque (EUA) quando esta sofreu os ataques do tão fatídico 11 de setembro. Além do pulso firme e de decisões rápidas as quais foi obrigado a tomar nessa época, Giuliani teve um mandato muito bem visto com crescimento e desenvolvimento nas áreas de segurança, geração de empregos e nas questões tarifárias.

Na área de segurança, Giuliani reduziu cerca de 60% da criminalidade na cidade, e fez com que despencasse a vontade que os nova-iorquinos tinham de abandonar a metrópole para morarem em locais mais tranquilos. Em passagem pelo Brasil, em evento da HSM Management, Giuliani palestrou sobre liderança e você acompanha, a seguir, as dicas desse gestor.

Preparação e adaptabilidade

Atualmente, de acordo com Rudolph Giuliani, um líder deve estar preparado para utilizar as diversas ferramentas disponíveis pela tecnologia, pois isso aumenta sua produtividade e o permite estar em contato com diferentes universos ao mesmo tempo, o que expande sua área de informação e conhecimento. Internet, blogs, celulares, Twitter, sites de redes sociais, elementos que pareciam banais até pouco tempo se transformam em necessidade.

Além disso, saber se adaptar, utilizando novos recursos, é essencial em qualquer tipo de gestão. “Hoje, há ferramentas que não existiam há 10 anos, como mapas de informação para se analisar zonas onde ocorre a maior parte dos crimes, com datas e horários catalogados virtualmente. Algumas ações só foram permitidas por conta da tecnologia desenvolvida”, afirma o ex-prefeito para justificar a integração e adaptabilidade que um líder deve ter.

“Se você quer ser um líder, deve, então, fazer parte da revolução digital que acontece diariamente. É necessário entender o que se passa nesse meio, aprender o funcionamento de tais dispositivos e, efetivamente, usá-los”. O ex-prefeito de Nova Iorque disse também que existe uma parte ruim no meio desse quadro. “A velocidade é muito grande, tudo é imediato, são cobradas atitudes instantâneas e, nessa onda, muitos líderes mudam de opinião rapidamente, o que pode não ser bom”.

Giuliani ressalta que há uma diferença entre saber se adaptar às novas ideias e a um novo mundo que está surgindo, ou mudar sua opinião de maneira radical de uma hora para outra. “Uma boa maneira de não ser saturado e soterrado pelo excesso de informação e diferentes maneiras de agir a cada momento, é seguir sua mente e seu coração, sua base educacional como um todo”, ressaltou.

Apesar de ações rápidas serem necessárias em qualquer tipo de gestão, Giuliani afirma que é preciso lembrar que todo projeto ou programa que inicia uma ação é, na verdade, um processo. “Não existe solução mágica, as coisas são construídas pouco a pouco”.

Conhecimento e trocas

O conhecimento de um líder deve vir de diversos pontos, não só da teoria, nem só da prática, mas uma mescla de tudo isso acompanhada de observação. “Você aprende de pessoas para quem você trabalha”, disse Giuliani ao se referir à melhor maneira de adquirir conhecimentos. “Deve-se capturar a essência, visualizar tudo aquilo que você acredita que eles façam bem e, nem que seja apenas no início, copiar”.

Criar um ambiente de trabalho de integração, com uma equipe mais capacitada, exige uma troca. “Compartilhar informações e experiências, bem como respeitar o conhecimento alheio, contribui para a evolução e crescimento do time como um todo. É a melhor forma de ensinar e aprender”, colocou Giuliani.

Quatro conselhos

Para construir uma boa base de conhecimento, um líder deve ter como prioridade alguns costumes que o auxiliem em suas reflexões e entendimento das mais variadas situações. “Quatro pontos são essenciais nesse sentido: todo líder precisa ler, escutar, debater e escrever. Isso o ajuda a aprender, entender, refletir e organizar seus pensamentos”, pontuou.

Giuliani defende que não importa o formato, nem o tipo de mídia que será utilizada para a leitura, desde um livro até um computador. O importante é ler, conhecer outras culturas, aprender a fazer análises, etc.

Escutar os outros é outro ponto importante, “pergunte às pessoas que se dizem especialistas o que elas acham a respeito dos assuntos dos quais entendem. Você não imagina a quantidade de informação de qualidade que se consegue obter pelo simples fato de questionar as pessoas”, ressaltou ele.

Para o gestor público, debater os temas relevantes em seu dia a dia é muito produtivo. É por meio do debate que se consegue refletir melhor sobre diversos assuntos, sendo a melhor oportunidade de se rever e analisar erros.

Por fim, escrever é a maneira mais adequada para se conseguir organizar seus pensamentos. “Transforme suas ideias em algo físico. Pelo simples fato de escrever você cria sua base de informações, aprende consigo mesmo, reaproveita conhecimentos que estavam guardados e você nem sabia”, afirmou Giuliani, e completou, “pense e se dê tempo para refletir, muitas de minhas ideias aparecem quando estou no chuveiro, por exemplo. Anote-as, esqueça-as e depois volte a lê-las, isso te dá capacidade para refletir com isenção.

Como se faz um líder melhor

De acordo com Rudolph Giuliani ainda existem outros seis pontos a serem atentados para que um líder possa evoluir em sua gestão.

Em primeiro lugar deve-se ter integridade e saber o que se quer. Defina seu plano, seu objetivo, seja capaz de descrevê-lo claramente e mantenha-se íntegro. “Se não há um plano explicitado, a equipe não sabe o que fazer e as pessoas não encontram seu lugar no todo. Sem integridade e caráter, nenhuma liderança é feita. Na falta destes princípios, o líder é abandonado”, reforçou.

Em segundo lugar, o líder deve ser otimista. Ser otimista, entretanto, não significa ser tolo e achar que tudo vai bem quando o problema está na sua cara, muito pelo contrário. “Ser otimista é conhecer os problemas, mas sempre buscar soluções, por mais difícil que a situação pareça”. Ninguém seguirá um líder que se entrega sob as dificuldades, “um líder que diz: tudo está acabado, não há esperança e nem o que se fazer. Nunca será seguido”.

“Tenha coragem, este é o terceiro ponto. Ela não é a ausência de medo, mas sim a capacidade de tomar decisões difíceis apesar do medo”, afirmou o ex-prefeito de Nova Iorque. Ele diz que é necessário treinar suas fraquezas, “você tem muito mais medo daquilo que nunca fez, então faça! Mesmo que saia errado inicialmente, isso te dará mais segurança para fazer o correto no futuro”.

Para superar o medo e ter coragem, de acordo com Giuliani, é necessário se preparar, qualquer que seja seu objetivo. “Pratique, treine. O medo só existe pela aflição de se fazer algo tolo, então prepare-se, fique confortável naquilo que antes tinha receio”. Para ele, estar preparado para o que de pior pode acontecer também faz parte do perfil de um líder. “Você pode não ter treinado para especificamente aquela crise, mas se treinou e praticou diversas outras situações, com certeza terá maior segurança e firmeza em suas atitudes”.

Comunique-se, é a dica de Rudolph. O líder nem sempre é aquele que executa a ação, mas é quem a motiva. Ele sabe o que fazer e tem de passar isso para a equipe, além disso, escutar é muito importante. Algumas soluções e ideias provêm de conversas com sua equipe. “Em tempos difíceis o líder deve estar mais presente ainda, as pessoas precisam mais de você num funeral do que num casamento. Liderar é dar direções, dar suporte às pessoas”.

Por fim, Giuliani aponta que a capacidade que um líder tem de assumir a responsabilidade para si é o que define a confiança que sua equipe nele deposita. É necessário não apenas ser confiável, mas também confiar nas pessoas, dar créditos a sua equipe é essencial. “O líder deve se rodear de pessoas que o complementem, que sejam boas naquilo em que ele tem falhas. Todos têm o que aprender e o que ensinar a você, equilibre forças e fraquezas com seus aliados”.

Concluindo a apresentação, o ex-prefeito fez um apelo mais humano para as lideranças lembrando que, apesar da objetividade e firmeza que devem ter, é necessário saber que lidam com pessoas, e elas nunca poderão ser substituídas por máquinas. “Precisamos de máquinas, sim, mas precisamos mais ainda das pessoas. Máquinas não pensam, computadores não sentem, só pessoas são criativas e têm potencial de desenvolvimento. Todos vamos enfrentar tragédias em nossas vidas, portanto ajude e entenda as outras pessoas, elas têm alma, coração e suas próprias vidas fora do trabalho”.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.