Renan De Simone

Avanço da GD deve mudar modelo tradicional e distribuidoras serão gestoras de sistemas, afirmam especialistas em Fórum sobre tema (setembro/2017)

Realizado em setembro, em São Paulo, o Fórum de Geração Distribuída e Cogeração de Energia – parceria entre Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia) e CanalEnergia – trouxe autoridades, agentes e especialistas no setor para debater o crescimento da GD (geração distribuída) em São Paulo e no país, bem como a diversidade de matrizes energéticas e o cenário futuro da energia.

As transformações e avanços tecnológicos mudarão a forma de geração e como os clientes se relacionam com a energia, segundo Rodrigo Ferreira, presidente do Grupo CanalEnergia. “A GD não é apenas a pequena geração caseira. A de médio e grande portes também são essenciais para o Brasil enfrentar seus desafios energéticos”, explica, destacando que ela é fundamental para dar segurança e eficiência, aliviando um pouco a carga do sistema de geração centralizada.

Para Bernardo Bezerra, diretor da consultoria PSR, “temos uma ‘boa confusão’ para o futuro quando olhamos para o cenário de GD no mundo e no Brasil. México e Vietnã já estão num processo de liberalização e descentralização de mercado e o Brasil deve começar nessa tendência também.”

Bezerra pontua que fatores como serviços distribuídos, barateamento de tecnologias, leasing de painéis solares vão acelerar o processo e ajudarão a criar uma nova categoria: o prosumidor de energia (produtor e consumidor). E nesse cenário, a GD renovável é muito importante, pois reduz a demanda na fonte, gerando perto do consumo e diminuindo perdas. “Além de diversificar investimentos e projetos, reduzindo riscos para expansão dos sistemas.”

“Num futuro próximo,” analisa o especialista, “as distribuidoras serão gestoras de sistemas, mudando o modelo tradicional e pensando na inserção de produção e geração junto ao consumo”, afirma.

Nem tudo tão simples

O movimento de avanço da GD passa por algumas questões legais e regulatórias, no entanto. Carlos Alberto Calixto Mattar, superintendente de Regulação dos Serviços de Distribuição da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), confessa que ainda há muito o que se avançar nesse caso.

Ele pontua que a Resolução Normativa 482, que estabelece as condições gerais para micro e minigeração distribuída, foi colocada (anos atrás) pela Agência para dar estabilidade ao desenvolvimento desse processo no país e não insegurança regulatória, apesar de saber que ela precisa de complementos.

“Obviamente, como há alterações de mercado e de tecnologias, a norma será revisada em 2019. Fomos permissivos, inicialmente, para incentivar o crescimento da GD, então não previmos cobrança ao uso das redes das concessionárias, por exemplo. Mas é preciso alinhar essa e outras diferenças daqui para frente”, completa.

Estado de São Paulo

Para São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, secretário de Energia e Mineração do estado, propõe a diversidade de fontes e que se pense a questão da água no cenário energético e em termos de crise hídrica.

Segundo ele, é preciso analisar como preservar tal recurso para agricultura, consumo humano e de animais, etc. “Portanto, alternativas de fontes de energia trazem segurança para o sistema e para as pessoas, pois diminui o impacto social e ao meio ambiente, com alternativas limpas, ao reduzir o consumo de água.”

De acordo com o secretário, hoje, o estado de São Paulo importa 57% da energia que consome. Enorme diferença com quarenta anos atrás, quando produzia 100% da energia que utilizava.

“Neste cenário, a GD é vital em suas múltiplas fontes para o crescimento do estado e do país. Estamos acelerando os leilões relacionados a petróleo também, pois tiramos gás desse combustível, mas precisamos pensar na solar, eólica, biomassa, biogás, etc.”

Exemplo de ações do governo nesse sentido é que dia 28/09, no Palácio dos Bandeirantes, será feita a formação do primeiro consórcio para construção de uma usina termoelétrica próxima à represa Billings, que produzirá 1.500 MW a partir de gás natural para dar segurança a grandes consumidores.

Meirelles enfatiza que temos de pensar em como ser um modelo sustentável de desenvolvimento. “Devemos juntar as expectativas ambientais com as necessidades atuais de geração de trabalho e renda.”

Cuidados

O diretor da PSR traz à discussão o cuidado que se deve ter no cenário de expansão de GD, evitando o chamado espiral da morte. “Um modelo básico do espiral é um em que uma tarifa cara de energia atrai cada vez mais pessoas para a GD, diminuindo a receita da concessionária e sobrecarregando mais a tarifa se não houver cobrança pelo uso da rede. A grande questão é quem pagará os custos físicos?”

Ou seja, é necessário identificar formas de harmonizar a inserção da GD no sistema. “Estudos apontam que, antes de valorar tais serviços, é necessário verificar se eles não estão aumentando os custos e a necessidade de investimento no sistema”, diz Bezerra. “É preciso corrigir distorções do custo do fio, afinal, bem como a diferença do custo em horário de ponta.”

Sobre a medição inteligente, outras questões surgem, como custo de troca de medidores, por exemplo. No entanto, segundo Bezerra, o Brasil já poderia ter uma tarifa mais detalhada. “O consumidor quer participar do mercado, quer saber o preço de acordo com o horário, pois a partir de determinado valor, ele prefere não consumir e simplesmente se desconectar.”

Neste caso, quem terá papel fundamental é o governo brasileiro, que precisará aprimorar a regulação das distribuidoras para: “dar os incentivos corretos às concessionárias para que elas sejam um facilitador de mercado; corrigir sinais excessivos à acumulação de capital; reduzir incertezas quanto à recuperação de custos da distribuidora; e acomodar incertezas da rápida inovação tecnológica”, completa Bezerra.

Para ler a sequência da cobertura que trata das usinas de biomassa e gás, clique aqui.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Matheus Medeiros. Publicado pelo site do SindiEnergia Comunica.

Para acessar a publicação original, clique aqui: http://www.sindienergia.org.br/noticia.asp?cod_not=4114