Renan De Simone

Energia com Futuro incerto e muitos desafios (maio/2015)

“O Brasil tem pouco recurso de carvão e ele tem questões ambientais sérias; a energia nuclear é cara e perigosa; os recursos renováveis são certamente a melhor escolha, mas são intermitentes, como podem ver pelas secas; e o Gás natural é uma escolha lógica, mas o mercado é disfuncional aqui no país”.

A declaração é de Ashley Brown, diretor executivo do grupo de Energia Elétrica da Universidade de Harvard que – em painel ao lado de Britaldo Soares, presidente da AES Brasil, e Rafael Lazzareti, diretor de Estratégia e Inovação da CPFL – enfatiza alguns dos desafios para o futuro da energia no Brasil.

O acadêmico de Harvard, em apresentação que aconteceu no II Encontro Brasileiro de Regulação do Setor Elétrico, em abril, na capital paulista, justifica que o Brasil pode não ter apresentado crescimento significativo nos últimos anos, mas que já demonstrou ser uma potência e que voltará a crescer em breve, precisando se ajustar quanto à energia.

“Usar a energia de maneira eficiente é melhor do que simplesmente aumentar a geração infinitamente”, defende Brown, que afirma ainda que a precificação deveria ser usada de formas diferenciadas para evoluir o consumo.

“Fornecer receita para as empresas para permitir um nível de serviço aceitável, prover incentivos (positivos e negativos) para empresas reguladas melhorarem a produtividade, proteger os consumidores contra abusos e monopólio de energia, dar sinais aos consumidores para usar a energia mais eficientemente… Se formos pensar, a quantos desses critérios a precificação do Brasil atende?”, questiona o acadêmico.

Segundo ele, o país deveria evoluir o modelo e dar aos consumidores o custo real da energia em cada momento do dia (como acontece nos EUA) e deixá-los decidir quanto pagar. Isso reduz investimentos desnecessários em mais geração na rede quando a energia se distribui por conta da tarifa.

“O problema é que queremos que as pessoas economizem energia, mas qual incentivo damos às empresas? Simplesmente para que vendam mais energia. Não faz sentido”, pontua Brown que reconhece nas novas bandeiras tarifárias brasileiras um progresso.

O estudioso aponta também que o uso do Gás no Brasil fica prejudicado pelo modo como a exploração é feita, o que o incapacita como alternativa de combustível para geração de energia. “Gás e Petróleo devem competir entre si como combustíveis, eles nunca deveriam estar na mão da mesma companhia”, completa ele se referindo à Petrobras que detém a exploração dos dois combustíveis.

Perspectivas e tendências

Lazzareti, da CPFL, vê como tendência um mercado com matriz energética mais diversificada em fontes e com geração interligada distribuída. “Daqui para frente a tendência é sempre na direção de casas inteligentes, cidades e pessoas mais conectadas, ou seja, a energia elétrica será fundamental para toda essa tecnologia, o Brasil ainda precisa crescer e expandir, seja no mercado regulado ou livre”.

Ainda de acordo com ele, esse cenário de evolução só será possível com um ambiente de regulação que garanta competição e planejamento. “A tendência é de liberalização, um impulso ao mercado livre, que atualmente precisa de atenção e aporte financeiro, já que é difícil conseguir contratos de longo prazo neste modelo”, reconhece.

Soares compactua com a visão de Lazzareti e afirma que a tecnologia e modernização são a saída para eficiência energética e redes inteligentes, e que o setor ainda é muito dependente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e precisa de competitividade para financiamento externo (dificultado pela flutuação cambial). “O mercado de capitais deve ser o financiador de longo prazo do setor elétrico”.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do SindiEnergia Comunica.

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