Renan De Simone

Extra da série Felicidade nas Empresas: propósito e ação no trabalho dependem de todos, especialmente do líder (março/2018)

Tecnologia da Informação, novos aplicativos, Big Data, CRM, Analytics, Sistemas de Gestão de Colaboradores… Ferramentas não faltam atualmente para melhorar processor e fluxos de trabalho, mas e as pessoas, o que faremos com elas? Lideranças e liderados – o que faz uma equipe motivada e feliz? Como montar um time de alta performance?

Para começar, “a ideia de que é preciso ter sucesso para ser feliz está errada e hoje enxergamos, na prática e através de estudos, que o inverso é verdadeiro: é preciso ser feliz para ter sucesso”.

Quem nos oferece o insight acima e outros a esse respeito é Rogério Chér*, consultor, autor, professor e empreendedor. Fundador da Empreender Vida e Carreira, ele já passou pelo RH de grandes empresas como Natura, por exemplo, onde foi diretor Corporativo de Recursos Humanos. Seu último livro se chama “Engajamento: Melhores Práticas de Liderança, Cultura Organizacional e Felicidade no Trabalho”, lançado pela AltaBooks, e também trata desse tema.

Segundo Chér, 50% da nossa felicidade é característica genética; 10% vem de circunstâncias da vida como educação, renda, etc.; e 40% vem de atividade intencional, o que você escolhe fazer. “Isso é uma boa notícia, afinal, pois você tem grande poder sobre a busca de sua felicidade, e isso ainda afeta os outros 10% ao longo do tempo, o que responde por metade dessa meta”.

Autoconhecimento, escolhas e coerência

O que costuma destruir as pessoas pouco a pouco, conta ele, é elas estarem “de mal” com as escolhas que fazem. Portanto, para ser feliz, o autoconhecimento é essencial. Precisamos de pessoas cientes de si, protagonistas e de bem com suas escolhas.

“Por exemplo, como uma empresa pode dizer ter valores sólidos se seus líderes não os tiverem definidos para si mesmos e até mesmo alinhados com os da organização? Se faltar coerência, o líder desmotiva toda a equipe e manda os sinais errados o tempo todo, destruindo a cultura da organização”.

“Quem engaja se sente conectado a um propósito maior dentro das empresas” e, de acordo com o professor, esse é o grande segredo, pois a remuneração é importante, sem dúvida, mas o propósito que você enxerga no que faz é o essencial para a motivação.

É possível ser feliz no trabalho, afinal? A teoria dos três “Is”

Para Chér, sim, e isso não quer dizer sorrir o tempo todo ou estar eufórico. O autor cita a conhecida máxima de que uma ostra feliz não faz pérola, o que significa que ser feliz e produzir bem não tem a ver com estar apenas se divertindo a todo o momento.

Para ser eficiente, produzir com significado e viver a felicidade profissionalmente, o professor diz ser necessário os três “Is” do trabalho: impaciência, inquietude e inconformismo. “Esses elementos te levam à ação, necessitam da emoção e, por isso, alteram as coisas”.

Segundo ele, um time só atuará em conjunto se seus membros ficarem vulneráveis entre si, o que significa quebrarem a barreira de formalidade e racionalidade pura no trabalho. “É preciso que o emocional entre profundamente em jogo, pois ao abrirem suas preocupações e fraquezas aos outros, os profissionais se reconhecem e se apoiam”.

Ele diz que não adianta tentar de outra forma, a coragem do líder em expor a si mesmo é o que cria conexão com os demais e os incentiva nesse sentido.

O que salva e o que mata a empresa

Chér afirma que a capacidade de conflitar é importantíssima para o desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas, o que leva, invariavelmente ao desenvolvimento da organização. “Ou seja, buscar consenso é bom, mas antes dele é preciso o debate e a provocação para gerar ideias novas. Harmonia artificial é o pior veneno que pode haver em um lugar. Respeito é necessário, mas não pode haver mentira em fingir estar tudo bem”.

Cultura de prestação de contas é outro elemento necessário para que a companha funcione, com clareza de posicionamento dos líderes e dos gestores sobre determinados temas.

“Se você é líder ou gestor e está em dúvida a respeito de um assunto, admita. Não tente enganar seu time, eles notarão que não há alinhamento em sua visão e é horrível sair de uma reunião sem saber qual é o ponto de vista do líder e do gestor, pois você gera uma ação descoordenada no time, cada um entende o que bem quer e faz o que acha ser o direcionamento correto”, pontua.

Chér continua dizendo que para se ter alta performance, o líder deve se responsabilizar e isso ajuda o time a puxar a responsabilidade para si também. E um ponto crucial do processo é o feedback.

“Dê feedback constante independentemente do momento, organograma da empresa ou se é positivo ou negativo. A devolutiva constante de pares, gestores e líderes ajuda qualquer pessoa a alinhar suas ações e incrementá-las”, enfatiza ele.

Como conselhos, ele oferece ideias cirúrgicas. “Tenha atenção aos resultados, eles são os efeitos de todo o resto, mas não se apegue somente a isso. Mire propósito e os resultados aparecerão. Tenha vontade de futuro. Seja curioso, empolgado”.

Fé e futuro

Chér coloca que o futuro é uma construção diária, assim como a felicidade, e que fazer a diferença no mundo e na vida das pessoas que nos cercam, diariamente e pouco a pouco, é o que traz significado para as coisas. Portanto, não devemos esperar milagres advindos de outros locais.

“Não sei quanto a vocês, mas eu tenho pouquíssima fé na política atual, nenhuma solução ou ação boa virá daquele escalão administrativo em nosso país. No entanto, só tem aumentado minha crença no impacto dos líderes das organizações. Eles são influentes e têm um trabalho gigante pela frente. São quem atingem as pessoas e podem ajudar a de fato mudar as coisas”.

Por fim, para que as coisas mudem e chacoalhem um pouco e possamos evoluir positivamente, o professor constata que devemos deixar de lado os líderes bombeiros, que correm contra o tempo para apagar o fogo que surge. “Precisamos de pessoas incendiárias, que façam arder as coisas de uma maneira diferente!”.

*Rogério Cher se apresentou durante o 1º Super Fórum, evento do varejo organizado pela DMCard em 2018 e baseado no Big Show da NRF (National Retail Federation) dos EUA.

Confira também as outras matérias desta série Felicidade nas empresas:

Parte I: O que nossas empresas podem aprender com o modo Hygge dinamarquês de viver?

Parte II: Reconhecer o diferencial humano nas organizações é o desafio neste momento

Parte III: Felicidade nas Empresas: ofereça experiências aos seus clientes e não apenas produtos

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.

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