Renan De Simone

História de sucessor: Christie Hefner é exemplo de como suceder um ícone (setembro/2010)

Quando o assunto é empresa familiar, com um negócio já estruturado e um líder de peso, um dos grandes problemas que se apresentam é a sucessão. Como ocupar a posição de uma pessoa que foi ou é um ícone?

Diversos problemas são enfrentados nessa transição: colaboradores não têm a mesma confiança e respeito de antes, alguns processos tendem a mudar, a cultura da empresa sofre adaptações. Enfim, uma batelada de ocorrências que podem prejudicar e destruir não só o sucessor como também a organização.

Sobre este assunto, Christie Hefner, filha de Hugh Hefner, o legendário criador da Playboy, esteve no Brasil em evento da HSM Management e falou sobre como assumiu a posição de seu pai na organização e obteve sucesso mesmo com os desafios que enfrentou.

Formada em Literatura Inglesa e Americana pela Brandeis University, Christie esteve 33 anos dentro da Playboy Enterprises, sendo que em mais de 20 deles foi presidente e CEO da companhia, abandonando tais cargos em 2009. Em sua gestão, ela liderou um processo de remodelagem e expansão no negócio da família que culminou num império mundial de mídia e licensing.

Transformou a Playboy na primeira revista impressa a deslanchar sua marca no mundo televisivo, além de criar sites e conteúdo para ser distribuído via comunicação móvel. Por meio de licenças, ampliou a marca Playboy de maneira internacional e arrecadou, em 2008, US$1 bilhão em vendas no varejo ao redor do mundo.

Toda história tem um início

Christie Hefner construiu uma experiência profissional em separado aos negócios da família, logo de início, atuando como jornalista e professora. Não tinha interesse ou intenção de adentrar na empresa Playboy. De acordo com ela, sua relação com o pai era como a que se tem com um tio, pois o via apenas em datas especiais, como aniversários, natal etc. Mas, ainda assim, era uma boa relação, sem conflitos.

“Meu pai fundou a Playboy quando eu tinha apenas um ano. Algum tempo depois, ele e minha mãe se separaram e eu fui morar com ela, em outra localidade. Quando adulta, meu pai me convidou para conhecer o negócio da família, não para que eu assumisse qualquer posição ali dentro, mas para passarmos mais tempo juntos”, contou ela.

Christie atendeu ao pedido e, depois de algum tempo, seu pai a convidou para trabalhar na revista. “Eu disse que não queria seguir em minha carreira jornalística na empresas e ele falou que não me queria ali dentro desta forma, queria que o ajudasse de outra maneira e iniciei com pequenos projetos que deram certo aos poucos”.

Com atitudes incisivas, Christie conquistou segurança e respeito para assumir a posição de presidente e CEO da empresa e dar continuidade ao negócio de seu pai, que permaneceu como conselheiro. Em 1985, aos 59 anos, Hefner sofreu um derrame que o fez repensar como poderia aproveitar melhor a vida. Com sua filha no comando da companhia, o criador da Playboy pôde curtir seu momento e viver todo o estilo que criara para a revista.

“A marca Playboy é importante não pela revista, mas porque representa uma cultura, um estilo de vida, que ganhou seu maior ícone no meu próprio pai”, confessou Christie.

Fórmula de sucesso

De acordo com ela, existiram alguns fatores que impulsionaram seu trabalho dentro da organização. Sua formação educacional e sua experiência em outras áreas (fora da empresa) foram fundamentais para que entrasse ali com outra visão.

“Confesso que, diferente da maioria dos CEOs, eu não tinha feito MBA (Mestre em Administração de Negócios, da sigla em inglês), mas aproveitei aquilo que eu já tinha ao meu alcance, e fiz o MBWA (Management by Walking Around – Gestão por andar por aí)”, brincou ela.

Christie também acredita que as visões complementares dela e de seu pai e as diferentes áreas de interesse dos dois foram essenciais. “O que ajudou muito para que alcançássemos todos os objetivos foi a criatividade permitida dentro da companhia. Os pequenos projetos que assumi foram importantes também. Os negócios pequenos e grandes têm problemas e questões bem parecidas. Quando se aprende a lidar com os primeiros, consegue-se tocar bem o segundo também”.

Ter oportunidade de escolha foi outro fator decisivo para ela, pois não sofreu pressões precoces para assumir os negócios do pai e conseguiu encarar melhor os desafios.

“Lidei com as contrapartidas de forma compreensiva e interessada. Os colaboradores sempre guardam desconfiança no início, mas o fato de eu ser da família fez com que as pessoas acreditassem que eu me importava com a empresa a longo prazo, e queria manter o conteúdo de qualidade da publicação”, contou.

Para ela, as empresas familiares são únicas, bem como as famílias.

O grande sucesso de seu desempenho se deu porque não visava apenas o lucro, mas sim a perenidade do negócio, com qualidade. “O sucesso do negócio significa o sucesso do nome da família e isso era o que me importava”, disse ela, e complementou “um familiar, quando se dedica, é muito mais produtivo que alguém de fora, pois já existe confiança, respeito, carinho e o desejo intenso para que as coisas deem certo”.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.