Renan De Simone

Planejamento é fundamental à prevenção de “acidentes maiores”, destacam especialistas (maio/2016)

“Não existe a prevenção a acidentes maiores no Brasil – que afetam o macro ambiente e a vida das pessoas no entorno – sob o guarda-chuva tripartite (Governo, Indústrias e Trabalhadores) proposto pela Convenção OIT (Organização Internacional do Trabalho) 174”. Essa foi a conclusão a que chegaram os debatedores de uma mesa redonda a respeito do tema no 16º Cobrasemt (Congresso Brasileiro de Segurança e Medicina do Trabalho), que aconteceu na capital paulista, na última semana de abril.

Sob mediação de Leonídio Ribeiro, engenheiro coordenador do curso de pós-graduação em Qualidade Pericial na Unip (Universidade Paulista), compuseram a mesa de debate Marcelo de Paula e Carlos César M. Cantu, ambos engenheiros Químicos e de Segurança do Trabalho; e Luiz Roberto Carchedi, engenheiro Civil e ex-comandante do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo.

Segundo Ribeiro, 68% dos problemas que atingem o macro ambiente têm origem no microambiente empresarial, o que eleva a responsabilidade das empresas neste contexto.

De acordo com Carchedi, o principal motivo pelo qual a prevenção a acidentes maiores não existe é a falta de cultura de planejamento no país. “Não existe nem mesmo organização e coordenação de ações das autoridades públicas para lidar com uma catástrofe”, afirmou, citando acidentes como o que houve no aeroporto de Congonhas (SP) em 2007, e o de Mariana (MG), no ano passado, com o rompimento da barragem da Samarco.

Segundo ele, temos muito a aprender com outros países no Gerenciamento de Riscos e Planejamento. “Exemplos como o plano Rouge (vermelho, em francês), na França, em que os processos funcionam como um relógio, são fantásticos, mas no Brasil as boas iniciativas de fora são burocratizadas, geram toneladas de papéis sem nenhuma aplicação”, completa.

Para Carchedi e outros especialistas no tema, tanto os acidentes pequenos dentro das empresas quanto os maiores não são evitados, na maior parte das vezes, por falta de ações e planos adequados.

Papel do governo e das empresas

“O governo, por meio de seus órgãos reguladores e de fiscalização, deveria orientar antes de punir. Já os empresários de diversos setores econômicos têm de tomar consciência sobre a questão e colocar a Segurança acima das simples questões de preços”, completou Ribeiro.

Conforme comentou Marcelo de Paula, nenhum acidente acontece por acaso. “Há uma série de falhas que se acumulam desde a gestão de riscos até o fato em si. A manutenção preventiva é praticamente ausente em muitos segmentos do país. O Brasil, como regra, é especialista em manutenção corretiva. O que observo é que somos bem criativos em soluções, mas não em previsões”.

A teoria e a prática

Para de Paula, as leis e as NRs (Normas Regulamentadoras) descrevem muito bem o que fazer, mas não dizem exatamente o como executar, o que é um problema. “Isso deixa que a interpretação fique a encargo das empresas e de seus engenheiros de SST, que falham, não à toa, nesse processo”.

A crítica do engenheiro, no entanto, não recai apenas sobre a legislação, mas também abrange parte dos profissionais de SST que, muitas vezes, impelidos pelas direções de suas empresas, nivelam a qualidade do trabalho por baixo. “Já me deparei com situações em que não se pensa em fazer o que é melhor, mas somente cumprir a legislação minimamente. Empresas do país, à exceção de algumas poucas de setores específicos, tomam decisões baseadas em preço e não na melhor ação, que, diga-se de passagem, nem sempre é a mais onerosa, bastando um correto planejamento para a gestão do tema”.

Ribeiro completa o pensamento, enfatizando que um dos grandes desafios ao sucesso dos sistemas de gestão para a prevenção e atuação em casos de acidentes maiores está na Comunicação Horizontal e Vertical, sabendo não apenas responder às perguntas que surgem, mas aos questionamentos certos, multiplicando em todos os níveis essa mentalidade para que todos na organização sejam capazes de trazer contribuições.

“Diante de um planejamento detalhado, em vez de as direções das empresas se perguntarem ‘o que vamos ganhar com isso?’, deveriam se questionar da seguinte forma: quanto vou perder se não o fizer?”.

Para ler a segunda e última parte desta matéria, acesse: O papel dos profissionais de SST na prevenção a acidentes que afetam o macro ambiente.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Matheus Medeiros. Publicado pelo site do SindiEnergia Comunica.

Para acessar a publicação original, clique aqui: http://www.sindienergia.org.br/noticia.asp?cod_not=3249