Renan De Simone

Empresa, um organismo vivo (março/2011)

Empresas são feitas de pessoas, e essa afirmação, por si só, já resume toda a ideia que se deve ter de como liderar uma organização.

Sendo feita por pessoas, toda empresa se torna um organismo vivo e, portanto, tem também tempo para tudo, fases que devem ser respeitadas e entendidas para a melhor adequação ao momento vivido.

Ninguém espera que um negócio já nasça em seu ápice, super-lucrativo, com processos complicados bem elaborados e com todos os seus departamentos numa calma rotineira que permita implantar novos projetos sem alterar muito o dia a dia. Esse é um patamar difícil de ser alcançado, e raramente o é para organizações que não respeitam suas fases de existência.

É preciso que se aproveite o momento certo e ninguém melhor para tal tarefa que os líderes, cérebros desse organismo.

Deve-se aproveitar, por exemplo, a empolgação (e a dificuldade) que existe quando uma empresa é ainda jovem. Esse impulso inicial é fundamental para que as coisas aconteçam, a mentalidade de startup. Não se pode gerir uma organização pensando em se contratar uma bela secretária e ficar com os pés sobre a mesa.

Mais que todos, o líder deve trabalhar, dar o exemplo, criar a cultura desejada. Trabalhe muito, pois é a melhor forma de aprender, lucrar e amadurecer.

Na verdade, para se chegar a colocar os pés sobre a mesa é preciso trabalhar como se isso nunca fosse acontecer e, cá entre nós, não vai, ou não deveria. Você, que tem perfil empreendedor, nem vai mais sonhar com isso depois de um tempo.

Líderes que batalham com a ideia de um dia poder largar mão das responsabilidades inerentes à sua posição são infantis e transformam o ambiente corporativo numa redundância de seu aspecto psicológico não amadurecido. A empresa vira uma esquizofrenia, reflexo do homem sem gosto pelo trabalho e que só vive com a esperança de se valer de status imaginário aprendido em filmes.

É necessário que o líder seja como uma criança

Não, não é contradição. Uma coisa é um homem infantilizado, outra é um com coração de criança. Uma criança sempre vê que o que está fazendo naquele momento é a coisa mais importante do mundo. Um buraco na praia, um castelo de areia. Elas “trabalham” até a exaustão, não comem e não tomam banho até que terminem. Esse é o espírito que os líderes devem emprestar às empresas: vontade de realizar, de promover a transformação, desde que aquilo tenha significado para o indivíduo.

Empresas de meia-idade estão num nível, digamos, mais confortável e mais perigoso, pois o ritmo intenso do início passou e, se novos desafios não surgirem – ou forem criados –, ela tende a entrar em declínio pela inércia (se você não tem problemas, então você tem um problema).

Morte ou vida

 Amit Goswami, cientista especialista em física quântica e filósofo, em entrevista ao programa Roda Viva, em 2008, definiu a morte como “quando a consciência para de causar o colapso das possibilidades quânticas em eventos reais da experiência (…). Momento após momento, incluindo nosso corpo e nosso cérebro, nós causamos o colapso dessas possibilidades em eventos reais que experimentamos. Quando perdemos essa capacidade de converter as possibilidades em eventos reais, nós morremos”.

Ou seja, quando paramos de querer interferir nas possibilidades e criar eventos reais do que antes era apenas conceitual, estamos mortos.

Christie Hefner, filha de Hugh Hefner, criador da Playboy, foi CEO da marca por mais de 20 anos e, em passagem pelo Brasil (em palestra da HSM Management), afirmou que só existem dois tipos de empresas “as que estão crescendo (e se transformando) e as que estão morrendo”. A afirmação da herdeira, não menos empreendedora que o pai, é um alerta aos cérebros das organizações…

Pois o que vai ser em 2011? Melhor encomendar fogos ou uma coroa de flores?