Renan De Simone

A arte de defender uma ideia. Chip Heath, consultor da Nike, explica como chegar ao “sim” para sua proposta de inovação (outubro/2011)

Uma forte dúvida sempre persegue empreendedores e líderes em geral: por que algumas ideias pegam e outras não? Chip Heath, professor de Comportamento Organizacional da Stanford Graduate School of Business e consultor da Nike, Microsoft e outras empresas, durante o Fórum de Inovação e Crescimento realizado pela HSM Management, falou sobre o assunto e levantou seis pontos essenciais que influenciam na força de uma ideia.

De acordo com o especialista, desde as famosas lendas urbanas, específicas de cada cultura, até os filmes de Hollywood, passando pelo programa espacial norte-americano lançado por John F. Kennedy (em 1961), tais ideias só são marcantes porque obedecem um padrão interessante.

Simplicidade

“Comecemos pelo mais difícil”, brincou o professor ao falar a respeito do primeiro elemento que compõem a lista. Heath parte do ponto de que “quem fala dez coisas, não diz nada”. O especialista ressalta que existe uma “paralisia decisória” que acomete as pessoas quando se deparam com muitas opções de escolhas.

“Um advogado de defesa que conheci promovia, ao final de cada julgamento, uma micro pesquisa com os jurados, perguntando sobre quais argumentos haviam influenciado suas decisões”, contou. A conclusão do estudo foi que quando eram apresentados argumentos em demasia por uma das partes, o julgamento tendia a favorecer o outro lado. “Focar em poucos pontos é fundamental”.

Surpresa

Ser inesperada. Heath disse que essa é a segunda condição para que uma ideia seja atraente. “Reclamamos que não conseguimos a atenção das pessoas nas empresas atualmente, mas elas precisam ser surpreendidas”. O especialista trouxe um case onde uma empresa queria cortar custos e não conseguia tal redução na área de limpeza por conta de um problema de “mira” nos mictórios do banheiro masculino.

“A solução foi inesperada, eles colocaram uma mosca colada na parte interna em cada um dos mictórios e conseguiram uma melhora significativa na ‘mira’ dos usuários do banheiro”.

Concretude

As citadas lendas urbanas “pegam” porque utilizam coisas concretas, roubo de rins, banheira com gelo, etc. Os jargões profissionais não são nada concretos para motivar seus colaboradores, por exemplo. “As pessoas precisam de coisas físicas, marcar um local num mapa é melhor do que dizer ‘vá até ali’. Pesquisas feitas com alunos de universidades apenas comprovam que informações e coisas concretas funcionam cerca de três vezes mais do que as abstratas, mesmo com pessoas que possuem os chamados ‘piores’ perfis nas empresas”, enfatizou o professor.

Crível

Outro aspecto do qual depende o sucesso de uma ideia é o quanto ela é crível. “Você não consegue atrair gente ociosa, de meia-idade ou idosos para uma academia, por exemplo, se as imagens de divulgação só mostram jovens sarados. As pessoas precisam crer no que veem, mesmo para imaginar um futuro próximo“, destacou.

Emocional

“Faça com que as pessoas se importem, aproxime as pessoas da questão, coloque-as no contexto”, essa é a dica essencial de Heath para quem quer transformar uma ideia em uma onda. Ele contou que um funcionário queria provar à sua diretoria que o sistema de compras da organização era ineficiente, mas números não são atrativos.

“Ele convocou uma reunião e espalhou pela mesa todos os 419 pares de diferentes tipos de luvas usadas na empresa com seus respectivos preços. Isso foi impactante, causou reações emocionais”, pontuou. No fim das contas, ele provou sua visão e as luvas foram reduzidas a três categorias, compradas de um mesmo fornecedor, o que diminuiu custos.

“As pessoas acham que mudanças surgem do processo: pensar, analisar, mudar. Na verdade a cadeia é ver, sentir, mudar”.

Histórias

Além de todos os pontos destacados, o especialista afirmou que histórias são motivadoras e funcionam como um simulador de voo para as pessoas. “Vários estudos mostram que pensar em fazer algo durante um tempo traz cerca de dois terços dos benefícios que se obteria ao efetivamente realizar a atividade. Fazer as pessoas pensarem na ideia por meio de histórias, já as atrai”.

Tarefa

Por último, o palestrante disse que a diferença entre ideias que “pegam” ou não, não se trata de alta ciência, mas sim de observação. “As pessoas se perguntam por que não temos mais ideias brilhantes, é simples, porque muitos acumulam conhecimento sobre determinados assuntos. Transitar entre saberes é bom, mas devemos fugir da maldição do conhecimento!”.

Para Heath fatores como complexidade elevada, abstração intensa, medo do óbvio e etc., são armadilhas certas que nos fazem cair na tal maldição dos experts. “Sua tarefa é não deixar que o conhecimento atrapalhe sua mensagem. Pense nos filmes de Hollywood, existem profissionais técnicos, mas não deixam que a mensagem perca importância no processo. É assim que tais ideias, assim como outras, ‘grudam’ nas mentes!”, encerrou.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.