Renan De Simone

O olho no olho insubstituível (novembro/2010)

Temos no mundo todo, hoje, uma forte tendência de exaltar os meios tecnológicos e de como, cada vez mais, tais ferramentas tendem a influenciar nosso futuro e ajudar em nosso cotidiano.

É verdade que no mundo corporativo, e na sociedade de uma maneira geral, essas ferramentas têm realmente colaborado em diversos processos, fazendo com que se alcance maior eficiência em menor tempo e com gastos reduzidos, especialmente em comunicação.

Nessa área, o tema traz um novo desafio para dentro das organizações e pede atenção a um contexto muito específico: o das relações entre as pessoas. Ao se pensar em Comunicação como um conceito mais complexo, vemos que é a capacidade de transmitir informações e, mais que isso, poder ter um retorno de qualidade, uma mensagem completa na ida e na volta. Mas, o que os meios tecnológicos de comunicação têm a ver com tudo isso?

Marshall McLuhan, teórico da comunicação responsável por diversos conceitos importantes na área, dizia que os meios de comunicação são extensões do corpo humano. Assim, podemos entender um celular como a extensão de nosso ouvido e de nossa voz, por exemplo, bem como um texto virtual ser a extensão de nossas mãos escrevendo. Dessa forma, não importa qual seja a mensagem passada, nem o canal utilizado para tanto, desde que se saiba o essencial: que são as pessoas que estão nas duas extremidades dessa ponte.

Com a euforia instaurada acerca da tecnologia, no entanto, essa parte parece ser esquecida. Vemos uma crescente onda de troca da realidade pela virtualidade, ou seja, as relações nas empresas, e até mesmo as pessoais, muitas vezes se reduzem ao contato imediato, porém distante, proporcionado pelos meios tecnológicos de comunicação.

A proposta do desafio que se coloca à nossa frente não significa interromper este ciclo e eliminar a comunicação feita através de tais canais. Além de absurdo, tal desafio seria impossível. A ideia é que se utilize, sim, todos os meios disponíveis para se comunicar com seus colaboradores, colegas e parceiros, mas que não nos esqueçamos da finalidade de tudo isso: alcançar o outro ser humano da ponta.

Os meios de comunicação são complementares e nunca poderão substituir o contato direto entre pessoas.

A expressão corporal, o sorriso, as nuances claras do tom da voz e até mesmo o movimento suave das sobrancelhas contam muito para enriquecer a comunicação, transmitir confiança e estabelecer vínculos mais próximos, segundo o neurologista e psicanalista Boris Cyrulnik. Esse é o tipo de relação que se deseja estabelecer e não uma relação distante e mediada por equipamentos diversos.

A proposta é que as relações sejam iniciadas ou que tomem sua forma mais forte por meio do contato direto entre pessoas, e não pelos meios virtuais. O desafio é utilizar tais ferramentas tecnológicas para reforçar tais vínculos e não para criá-los em primeira instância.

Dessa maneira, a rede formada será muito mais coesa, sólida e confiável. Com um contato direto com seus colegas, colaboradores e parceiros, o uso das ferramentas para a “manutenção” dessa rede será muito mais fácil e otimizada.

Dietmar Kamper, sociólogo e teórico da Comunicação, num de seus textos, afirma que “sem o grande horizonte da experiência corpórea, o uso dos meios permanece uma questão necessariamente travada”. Ou seja, sem o contato pessoal, físico, os meios – que deveriam ser a extensão de nosso corpo, como disse McLuhan -, perdem o sentido e ficam travados em si mesmos. Afinal, nada substitui o olho no olho.