Renan De Simone

Desafios de liderar em um mundo Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo (junho/2017)

Para ser um bom líder no mundo “Vuca” (volátil, incerto, complexo e ambíguo, na sigla em inglês), é necessário encontrar a melhor zona de aprendizado para sua empresa, ou seja, o equilíbrio perfeito entre padrão de desempenho e segurança psicológica de seus colaboradores. O objetivo é evitar ansiedade e estresse excessivo nas pessoas ao cobrar desempenho e também não incorrer no risco de jogar a todos numa zona de conforto com segurança psicológica que torne os colaboradores apáticos.

A conclusão é de Amy Edmondson, professora de liderança e gestão da Harvard Business School que esteve em São Paulo em evento da HSM Educação Executiva. Na ocasião, esteve também Julian Birkinshaw, professor e diretor de Estratégia e Empreendedorismo na London Business School.

Para ambos, o mundo sempre mudou ao longo das gerações, entretanto as transformações vão se acelerar cada vez mais, exigindo nova postura das corporações e de seus gestores.

Novas equipes e modelos

Amy defende que nessa realidade Vuca é preciso um modelo no qual os colaboradores possam realizar experimentações em lugar de conformidade; em que tenham velocidade em solução de problemas em vez de escala de produção; em que se pense mais em criação e integração de mercado que em dominância; inovação em lugar de eficiência; diversidade em lugar de homogeneidade; e que se tenha foco em equipes multifuncionais.

Isso porque, de acordo com Birkinshaw, na história recente, os dois grandes modelos de organização de negócio – burocracia e meritocracia –  darão lugar a um terceiro: Adhocracia.

A burocracia, que tem ênfase nos sistemas e processos, focada em produtividade, aliena os trabalhadores e coloca o saber baseado em hierarquia. A meritocracia, baseada em currículo, experiência e conhecimento teórico tira um pouco a ênfase da posição hierárquica e a coloca sobre a informação, mas nem sempre no conhecimento aplicado.

“Hoje entramos na era da Adhocracia”, afirma Birkinshaw, “que é um modelo que privilegia a ação em lugar do conhecimento teórico ou o processo em si. Ou seja, é uma era de agilidade, ação decisiva e convicção emocional. Esta era será movida pela experimentação, flexibilidade, aprendizado pela tentativa e erro, e pessoas motivadas por objetivos atingidos”.

Os líderes desse modelo, conta o especialista, serão responsáveis por apontar a direção, capacitar pessoas e decidirem por experimentação. O desafio é deixarem de ser os detentores de todo o conhecimento para se tornarem direcionadores.

Simplicidade

Para Julian Birkinshaw, quanto mais criamos complexidade, mais alienamos aqueles que fazem apenas uma parte pequena do trabalho. “Para evoluir para a simplicidade, devemos, como líderes, prover um senso de direção e liberdade, baseados em regras simples que sirvam de balize, engessando pouco e promovendo criatividade, o que ajuda na evolução das pessoas e do negócio”.

Isso porque, pontua ele, com liberdade, assumimos mais responsabilidade como indivíduos e as coisas funcionam de uma melhor forma. “Torne mais simples, integrado e deixe que as pessoas tenham mais tempo para executar o trabalho em vez de ficarem presas a processos”.

Essa visão, para Amy, passa por uma horizontalização no relacionamento nas empresas. Pesquisa apresentada pela especialista revelou que 84% dos entrevistados nas companhias disseram que podem confiar nas pessoas acima ou abaixo na cadeia de comando, mas apenas 59% confiam nas pessoas da sua própria unidade.

“Isso mostra que o modelo de empresa é feito para pensarmos verticalmente, mas o mundo Vuca exige uma horizontalidade. Não à toa, puxamos a palavra ‘equipe’ do mundo esportivo! É preciso confiar nos seus parceiros em campo. É a sinergia entre eles que faz a diferença, não a hierarquia, assim como uma equipe médica salvando uma vida”.

Para exemplificar o desafio atual, Amy citou o incidente com os mineiros no Chile, em 2010, quando 33 pessoas ficaram, por 69 dias, soterradas até serem resgatadas. “Foi preciso inovação, tomada de decisão e mudança de direção rápida, com tentativa e erro”. Em resumo, diz ela, a inovação parece bagunça, mas exige disciplina, deve permitir algumas rotinas e processos paralelos para que funcione, assim como o resgate.

Na equipe que executou o salvamento dos mineiros, foi preciso que a pessoas realizassem papéis distintos e flexíveis; uma comunicação transparente; identidade compartilhada e engajamento na missão; persistência através da falha e aprendizado com os erros; expertise respeitada, mas com ouvidos a quaisquer boas ideias que pudessem surgir, não importando de quem; e liderança capacitadora.

“Tais fatores são o novo modelo, que é embasado em equipes formadas por pessoas de diversos níveis hierárquicos, disciplinas, regiões e funções; por inovação conforme se avança; experimentar em alta escala e sem parar; e perseverar em face das falhas”.

O líder

Nesse modelo, o papel do líder é enquadrar de maneira adequada o desafio a ser superado, promover a falha inteligente – aquela que ocorre apenas uma vez e leva ao aprendizado –, e criar segurança psicológica para a equipe, que é a crença de que o indivíduo não será punido ou humilhado por falar suas ideias, questionamentos, preocupações e erros.

Em resumo, para ser um bom líder no mundo Vuca, é necessário encontrar a melhor zona de aprendizado: o equilíbrio entre padrão elevado de desempenho e segurança psicológica, evitando a ansiedade estressante ao mesmo tempo em que a equipe recebe motivação para agir e avançar fora da zona de conforto.

Conteúdo produzido por Moraes Mahlmeister Comunicação. Texto de Renan De Simone; edição e revisão de Juliana de Moraes. Publicado pelo site do Sincodiv-SP Online.

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