Renan De Simone

O Brasil está no centro das atenções. Qual deve ser o foco das empresas? (julho/2011)

O Brasil está no foco do mundo atualmente. Uma economia emergente, estável nos últimos anos, um país com geografia favorável, ambiente vasto e com diversas possibilidades de crescimento e desenvolvimento.

A sondagem recente, “Sonho Brasileiro”, realizada pela Box1824, empresa de pesquisa especializada em tendências, mostra que o jovem brasileiro acredita mais no seu país, comprovando uma propensão à melhora, mas que ainda não chegou.

O estudo revela que 76% dos jovens acreditam que o país está mudando para melhor e 89% deles têm orgulho de ser brasileiros. O quadro parece bonito à primeira vista, mas mostra outra realidade. Tal crescimento acelerado exige também mão de obra qualificada, mas a formação de profissionais leva mais tempo do que o mercado pode esperar. E uma das saídas para solucionar rapidamente este problema é “importar” tais profissionais.

Segundo dados obtidos pelo Valor Econômico, o número de estrangeiros que receberam visto de trabalho no Brasil aumentou 13% no primeiro trimestre de 2011 em relação ao mesmo período de 2010. Foram 13 mil estrangeiros autorizados pelo Cnig (Conselho Nacional de Imigração), vinculado ao Ministério do Trabalho, nos três primeiros meses do ano.

De uma forma geral, o desenvolvimento de nosso país pode ser visto de diversos ângulos. Um dos argumentos usados pode ser o de que a entrada de tais profissionais no país se rivaliza com a saída de brasileiros que vão para fora para trabalhar. O quadro não é bem esse.

Na maioria das vezes, não são trabalhadores brasileiros que vão para o exterior pela sua qualificação. Isso existe, sim, é verdade, mas não é o comum. Em grande parte, os brasileiros que estão “lá fora” são estudantes que, por facilidades, tiram este tipo de visto para entrar em outros países para trabalharem em busca de melhores condições.

Uma vez ali, e falo por ter diversos exemplos próximos, os brasileiros acabam entrando no mercado de trabalho como mão de obra barata (e mesmo sendo “baratos” como profissionais, o salário vale a pena), mesmo que tenham qualificação para buscar algo melhor.

Déficit

O ponto importante de se observar é que do total de trabalhadores “importados” nesse primeiro trimestre, houve um crescimento de 7,8% daqueles que possuem doutorado, mestrado ou curso superior.

A situação parece ser clara: o Brasil exporta mão de obra “barata” ou sem qualificação, e importa gente qualificada.

Não se pode dizer que tal conclusão seja boa para o país, mas a verdade está um pouco “mais embaixo”, como dizem. Os dados mostram também que, o ritmo de trabalhadores qualificados que entram no país tem diminuído em relação aos de baixa qualificação.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho, cerca de 1.144 vistos este ano foram concedidos a pessoas que contavam com a classificação “outros” na escolaridade o que, segundo a assessoria do ministério, indica que o grupo é quase todo formado por profissionais de baixa qualificação.

 Isso quer dizer que não estamos apenas atraindo mão de obra qualificada para a necessidade do mercado, mas também profissionais de baixa qualificação. Se estamos “importando” estes dois tipo de profissionais e nossas “exportações” nesse sentido estão desniveladas, devemos ter um “déficit comercial de trabalhadores”.

Para ser um país coeso e forte, o Brasil precisa se desenvolver em diversos níveis e de maneira integrada, investindo em pessoas, infraestrutura e demais áreas. Não existem dúvidas de que o Brasil está num momento único de sua história e com possibilidades enormes pela frente.

O grande desafio que se apresenta agora é um tanto básico, e que já deveríamos ter aprendido há anos: é necessário planejamento e estratégias não só de curto, mas também de médio e longo prazos, o que inclui o papel individual de cada empresa no investimento voltado à capacitação de seus profissionais para evitar que, concorrentes, atentos a este fato, não saiam na frente…