Como jornalista, sempre passei por um fenômeno interessante. Não importava se eu estivesse atuando na área cultural, indústria de energia, de veículos, de educação ou qualquer outra, sempre havia alguém para me questionar “se eu não estava sabendo” de algo que havia acontecido em um setor totalmente diferente daquele no qual eu atuava.
Essa questão, por si só, não é grande coisa. Sou o tipo de pessoa que fala sobre praticamente qualquer assunto, ou pelo menos me interesso por temas variados, e isso atrai conversas de todo tipo. O problema não é me abordarem para me contarem algo ou perguntarem se eu sei a respeito de um assunto específico, mas sim o fato de algumas pessoas ficarem verdadeiramente incomodadas se eu não estivesse “por dentro” de um tema ou fato. E diziam quase com certa indignação. Isso me fez me sentir mal por um tempo, mas depois a recorrência me fez perceber que era melhor apenas lidar com isso, pois talvez fosse algo inerente à profissão.
No entanto, o curioso é que esse fenômeno parece ter se expandido hoje em dia e ultrapassou, de longe, as fronteiras da profissão do jornalista. Atualmente, vejo as pessoas questionarem umas às outras sobre diversos temas e percebo aparecer aquela indignação quase agressiva quando recebem uma negativa. De novo, não falo aqui simplesmente do “puxar assunto” de uma conversa normal, mas sim daquele questionamento que aponta um dedo como se você fosse obrigado a saber tudo e já ter uma opinião formada ou “defender um lado” na questão que está sendo trazida pelo indivíduo.
O acesso facilitado à informação (nem sempre de qualidade) parece fazer as pessoas acreditarem num mundo onisciente onde precisamos sempre poder discutir todas as pautas e, pior, quase exigem que tenhamos opiniões formadas a respeito de tudo, das últimas notícias à postagem mais recente de uma celebridade que provavelmente vai se apagar na avalanche de gente que pseudo-importa.
Aquele fenômeno que me ocorria, de alguém se indignar por eu não saber da “crise no Azerbaijão”, extrapolou a profissão e hoje beira quase o nonsense na sociedade onde parece uma ofensa eu não me interessar “pela sua pauta”.
Pois bem, que fique claro que a internet não é onisciência e, mesmo que fosse, seria uma tolice crer que nós poderíamos abarcar tanta informação (com qualidade e profundidade) em nós mesmos. Nem tudo que acontece ou que importa está rolando nas redes e, mesmo que estiver, provavelmente a “sua pauta” não é a única… E nem a mais importante.
Não posso falar por todos, mas, no meu caso, há pautas sobre as quais não falo simplesmente porque não tenho nada a contribuir; outras porque, mesmo sabendo algo, não me interesso por elas; mas a grande maioria é simplesmente porque eu talvez nem saiba que existam, e provavelmente nem quero saber.
Aos que me propõem conversas, saibam que adoro falar e discutir sobre muita coisa, especialmente sobre aquilo a respeito do que ainda não tenho uma opinião formada, pois posso construir algum conhecimento a partir das informações que tenho e que me trazem para debater. No entanto, se você é daqueles que só querem se indignar porque não comprei “sua pauta” ou porque não tenho opinião formada sobre que “lado” estou, eu passo o papo.
Já sou velho o suficiente para saber que não sou, nem nunca serei, onisciente; também para entender que nem sempre a vida se faz de “lados”; e o mais importante é que: a grande maioria das ideias que não aceitam discussões e só querem opiniões formadas e prontas, não nos levam a lugar algum.
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Verdade não temos opiniões sobre tudo que acontece no mundo, nem devemos tomar partidos , apenas devemos usar a sinceridade quando nos questionam sobre algo , parabéns sempre sensacional com seus pensamentos.