Vivemos tempos difíceis de modo geral e isso é inegável! Mas há um aspecto que tem me preocupado sobremaneira, em especial nas redes sociais (dos ditos famosos ou não) em que frases resumidas, retiradas de seu contexto e com suposto impacto de efeito, porém sem semântica, passam a existir como entidades próprias e parecem justificar atitudes, ativismos e são usadas como “lacração” – com o perdão do uso deste termo que já se tornou tão amplo que pode até mesmo representar grupos, o que não é o caso aqui, pois o tema que trago à tona é generalizado e independente dos vieses (políticos, sociais, ideológicos e afins) das pessoas.
A meu estreito (admito) olhar, há um perigo intrínseco nisso tudo que é a perda do diálogo, do se escutar perspectivas e tentar compreender algo além do que “palavras de ordem”. Quando usamos expressões prontas e multiplicadas ad infinitum na internet como se elas bastassem em si mesmas, estamos encerrando uma conversa sem o diálogo, como se fosse um “drop the mic”. Porém, muitas vezes, nenhum ponto foi defendido ou argumento concluído, esse é apenas um recurso que funciona como “cala a boca”.
A não discussão pode ocorrer por vários motivos, mas parece haver na polarização de ideias, na escolha de “lados”, um elemento de falta de tempo, de que parece se perder outras coisas quando se engaja numa conversa de argumentação profunda e isso é perigoso demais.
Se nossa relação humana e com o meio em que vivemos é complexa, não podemos expressá-la de forma simplista e dicotômica, ou mesmo com “frases de efeito” que estão desligadas de um sentido maior. Diferentemente de um ditado popular, que carrega uma espécie de sabedoria de fábula ou parábola em si, tais frases se esvaziam rapidamente se pedirmos para metade dos que as usam explicarem-nas ou os motivos e sentidos que desejaram dar. Não há muito além de repetição, pressa, “coloquei sem ler”, “tá todo mundo postando assim”.
Decidir não avaliar, argumentar e discutir é desprezar o próprio ato de ser humano (no próprio livro Sapiens, do Harari, ele aborda a questão da linguagem, cultura e trocas comunicacionais como nosso ponto forte frente a outras espécies). Pode ser mais rápido no agora, pode ser menos estressante e até mais confortável no curto prazo. Mas a pergunta que insiste em martelar em minha cabeça é: e depois? O que nos tornamos com esse tipo de postura num processo maior e histórico que tende a ultrapassar nosso simples momento?
“É medo que fala?”.
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Maravilhoso como sempre! Em tempos que se acelera audios do whatsapp, ver alguém pensando diferente é reconfortante. O imediatismo esta tomando conta da sociedade, ninguém mais quer dialogar , pensar, conversar! Parabéns por mais um belo texto.
Muito bom, mas acho que com a pandemia desaprendemos como é dialogar, ficar sozinhos fechados em casa apreendemos a nos calar. Parabéns em continuar pensando nos diálogos. Beij