11 Dicas de escrita baseadas no livro CAFAJESTE

Queria compartilhar um pouco mais da experiência do meu mais novo livro com vocês e decidi colocar algumas dicas de aprendizados que tive durante essa rápida jornada.

Para entenderem porque eu disse “rápida”, a ideia de escrever a história do CAFAJESTE brotou na minha cabeça por volta de 2005, mas foi só neste ano de 2020, nas minhas férias forçadas do trabalho por conta da pandemia de coronavírus, que tive o devido tempo e cabeça de transportar aquele acúmulo de frases e sacadas para a história que eu queria e escrevê-la. Parece rápido demais, às vezes, mas escrevi este livro em 14 dias.

Apesar de duas semanas ser um tempo exíguo, se formos somar a quantidade de horas que trabalhei neste livro nesse período, talvez vejamos que a média não fique longe de outros materiais que foram feitos em longos meses. Tudo foi muito rápido, até os famosos bloqueios criativos que ocorrem no meio da construção das obras rolou, mas durou um dia e meio o maior deles. Para mim é pouco, em especial em relação a outro que já tive de três meses, por exemplo, como aconteceu durante a produção de O Destino de Anita, em 2013.

Foi uma jornada intensa escrever esse livro sobre um personagem que tinha reflexões muito interessantes do mundo que o rodeia, com sacadas de humor que eu adoro e cenas picantes. No entanto, o caráter bem duvidoso de Arthur, que se afasta do que penso como pessoa “boa” me deixou em conflito algumas vezes. É uma loucura, em especial quando o coloco em perspectiva com outros de meus personagens e protagonistas em meus livros, mas foi uma aventura e um amadurecimento como escritor. Arthur diria que “ninguém é bom, afinal”!

Bem, pensando um pouco nessa trajetória, decidi compartilhar o que acredito serem dicas úteis para quem está nessa saga da escrita, seja para um conto, livro, crônica, roteiro ou qualquer história que você queira contar.

11 Dicas para escrever

Aceite que seus personagens podem ganhar “vida própria” e fazer coisas que você não aceita como pessoa. A primeira dica é sobre desenvolvimento narrativo, afinal. Não deixe que isso atrapalhe sua entrega para a história. E aproveite, pois essa dualidade que há quando criamos ajuda muito a usar a obra para várias funções.

Por um lado, é “só uma história”. Por outro, são formas de lidar com situações confusas que vivenciou ou tomou conhecimento, oportunidade de propor reflexões e brincar com olhares sobre momentos diversos. É o famoso sair da zona de conforto, caso contrário, você pode escrever apenas em seu diário (nada contra diários, eu os amo, na verdade).

– Escreva um personagem contraditório em relação a si mesmo. É muito interessante porque tanto você quanto ele podem evoluir juntos nessa jornada. Em alguns momentos, achei até que Arthur tinha razão em alguns pontos, e aposto que ele me olhou com um ar de cumplicidade quando eu lhe disse algumas coisas também, sem largar aquele ar sarcástico que lhe é característico, claro!

– Bloqueios criativos são um pouco inevitáveis. E, na verdade, não os vejo como bloqueios, mas sim tempo de recarga. Pense na sua mente como uma arma carregada que está pronta a disparar palavras, histórias e provocações, no entanto, depois de alguns cartuchos saírem, é preciso recarregar, simples assim.

Dependendo do que você faça para recarregar, esse processo pode ser mais rápido ou vagaroso. Leia coisas diferentes, assista a filmes, séries, escute músicas, converse com pessoas, vá dar uma caminhada e simplesmente observe a vida. Caso esteja ansioso ou ansiosa demais para qualquer uma dessas coisas, pois quer continuar com a construção da obra, dedique-se ao que eu chamo de parte “burocrática”.

Se não puder criar, aprimore o que já tem. Revise trechos, organize capítulos, formate partes do texto que já tem, separe frases que ache interessantes ou pedaços do material que precisarão de atenção especial no futuro. Tudo isso é muito chato de se fazer quando sua mente está fervilhando com ideias que não veem a hora de escorregar dos seus dedos para o papel, tela ou qualquer formato que use. Inclusive, variar formatos é uma maneira de quebrar parte desses bloqueios. Ter vários suportes te ajuda a pensar de maneiras diferentes.

– Quando não souber o que escrever, escreva qualquer coisa. Isso não significa que tudo o que você vai produzir será usado ou será parte da obra. Há a probabilidade mesmo de que tudo seja descartado, mas o intuito disso é funcionar como uma espécie de exercício. Como nosso mestre Machado já disse “palavra puxa palavra” e é verdade! Pense nessa escrita um pouco sem sentido como um trampolim para que você consiga chegar até onde deseja. E quem sabe no caminho você não consiga algum material bom?

– Não se apegue à cronologia da história para escrever. Às vezes você está num ponto X do livro em que o próximo passo parece óbvio, o capítulo 7 vem depois do 6, mas isso não precisa ocorrer no momento de criar. Se você está com vontade de escrever um momento da narrativa que só deve se encaixar no capítulo 10, não se intimide e o produza se estiver inspirado para tanto. Depois você pode reorganizar seu material e dar os contornos finais desejados.

De todas as pessoas e coisas que podem te limitar, por favor, não faça isso consigo mesmo(a).

– Converse com pessoas e pergunte a opinião delas. Isso pode ser feito de diversas formas, contando trechos da história, oferecendo pedaços a serem lidos ou mesmo propondo um “você prefere isso ou aquilo?”. Por mais que sua ideia esteja pronta, um olhar a mais pode fazê-la evoluir.

Pessoas com quem conversei ao longo de CAFAJESTE me deram dicas fundamentais de elementos que, afinal, apenas enriqueceram a obra e a própria experiência de leitura e escrita.

Aceite que mudanças vão ocorrer, mesmo quando você acreditar que tudo está encerrado. Sem mentiras, uma amiga, um amigo e minha esposa, pessoas com quem dividi o trabalho logo de cara, me avisaram que eu estava errando em querer complementar o título com o adendo de “o livro proibido para mulheres”. A obra já se posiciona por si, esse tipo de acréscimo, na verdade, pode enfraquecer o trabalho, me disseram e estavam certos.

Perdoem o escritor nesse ponto, mas eu estava envolvido com o livro, como se estivesse com uma lupa. Leva um pouco de tempo até tomarmos a distância necessária e enxergarmos o todo e não apenas os detalhes da história que queremos contar.

Essa percepção das pessoas próximas a mim foi fundamental e o próprio Matheus Negrão, artista que desenvolveu a capa (como você já sabe, se leu o texto anterior postado neste site), me alertou sobre isso. Escutar vale a pena.

– Cuidado com sua ambição criativa. Todo mundo quer coisas super originais, criativas, novas e impressionantes. Esse desejo é válido, mas não deixe que ele cegue ou estrague sua obra. Às vezes você tem tudo funcionando numa estrutura narrativa e joga por água abaixo por querer colocar mais coisas do que deveria ou achar que deve algo a alguém. O texto é para seus leitores, sem dúvida, mas também deve falar com seu coração.

Cheguei a um ponto de o CAFAJESTE em que eu já tinha tudo o que queria e da maneira como havia pensando. De repente, talvez pelo “vazio do fim próximo”, me bateu uma insegurança e veio a ideia de que eu precisava criar um arco narrativo alternativo.

Cheguei a escrever mais de 8 páginas a esse respeito e, quando reli, vi que aquilo era outra coisa. Não eram os meus personagens e, apesar de ter sido escrito por mim, não era minha história, não a que eu queria contar neste livro. Abandonei este trecho e vendo isso agora, com a cabeça mais “fria”, vi que foi a melhor decisão. O lance de conversar com pessoas que mencionei anteriormente ajuda neste ponto também.

– Saiba o que deixar de fora. Isso, na verdade, complementa o item anterior, mas dá uma perspectiva diferente. Cortar é parte do processo, por mais doloroso que seja. Isso não quer dizer que o texto, o livro ou a história não possa ser longa, pelo contrário, há livros gigantescos que são maravilhosos inclusive por conta dessa riqueza. Pense no quanto é suficiente para dizer o que você quer. Fuja das firulas de vaidade que podem acometer os escritores.

– Ofereça experiências complementares ao seu leitor, se possível, claro! Há mil formas de se fazer isso, mas aqui vão algumas ideias. Referências a outros elementos culturais são fortes aliados para isso. Quadros, esculturas, filmes, livros, quadrinhos, músicas, enfim, todas são maneiras de você ajudar a complementar uma ideia, um cenário, uma história.

Utilizar-se de acontecimentos e lugares reais também são boas opções, pois isso causa algum tipo de reconhecimento em quem lê. Caso queira, ou possa, extrapole essa experiência para outras plataformas. Uma forma que encontrei, por exemplo, foi disponibilizar uma playlist no Spotify com as músicas que aparecem na história (que você pode conferir aqui) e que têm relação com os diversos momentos do personagem principal, Arthur. E aí, curtiu? Me conte um pouco sobre o que quer saber sobre escrita ou quais são seus próprios processos.

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Publicado por

RDS

Jornalista, escritor, metido a poeta e comediante. Adorador de filmes e livros, quem sabe um filósofo desocupado. Romântico incorrigível. Um menino que começou a ter barba. Filho de italianos, mas brasileiro. Emotivo, sarcástico e crítico, mas só às vezes.

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