O inferno não existe! Parte 4 – Ele vê

Perceba que tudo isso é muito diferente de ignorar os fatos, pelo contrário, para se superar todas essas tormentas é preciso, antes, tomar conhecimento delas e decidir enfrentá-las. Assim como na psicanálise, nada é imediato, tudo depende de uma gradual evolução, da criação de emoções e pensamentos diferenciados pouco a pouco, da criação de um novo hábito.

Se Freud já afirmava que os sentimentos catárticos podiam até ser úteis como impulso inicial, mas que não se concretizavam em si mesmos e, sem um trabalho contínuo, perderiam força rapidamente e fracassariam como projeto (assim como aquele regime toda segunda-feira), assim também funciona o cristianismo e a oportunidade de escapar do inferno ainda em vida.

Jesus fala de um relacionamento com Deus não à toa, mas sim pelo tijolo diário que se coloca nessa construção. Ao contrários de nós, no entanto, Ele não derruba a casa e se rebela ao menor deslize de nossa parte. Deus não é melindroso, nós somos. E acabamos por inverter a lógica: em vez de sermos à imagem Dele e buscarmos em nós o que há de melhor para ver a face divina uns nos outros, colocamos nossa forma de pensar e agir como se fosse a Dele e o julgamos poderoso e implacável.

Por vezes, ele é nosso algoz. Em outras, é uma mera ferramenta de pedidos ou, pior, de vingança, buscando uma ideia de justiça que só existe em nossos corações conturbados e machucados por nós e pelas outras pessoas.

Quebrantar o coração e expô-lo a Deus serve justamente para podermos nos desarmar, largar as pedras que temos na mão para liberá-las para o abraço.

Obviamente, a vida exige sacrifícios, mas eles não são ruins. Todo resultado pós esforço nos dá uma sensação maravilhosa. Sabemos que tudo o que vem fácil perde valor e nos mantêm mimados e imaturos, mas há de se ter um equilíbrio entre dor e alívio. As palavras de Jesus nos dão a receita para como tocar a vida. Não é fácil. Em especial pelos nossos vícios e hábitos, ganância e outras coisas mais que nos perturbam, mas faz um bem danado!

Julgamento final

Quanto ao julgamento final, se ele realmente for ocorrer, não acredito que seja para colocar os não-arrependidos em sofrimento eterno, não me parece ser do feitio desse Deus que tanto mostrou fazer por nós.

Em minha rasa concepção, se ocorrer, o julgamento final será o ápice do livre arbítrio, quando escolheremos, não sofrer, mas sermos apagados da existência por nossa escolha.

Pelo que vejo e pelo que já senti diversas vezes na vida, se tal julgamento fosse agora, muitos desejariam ser erradicados da vida, mas talvez isso também seja uma visão simplista, imediatista e tola, quem sabe não é por “estender a oportunidade de escolha” que a coisa “demora” tanto.

Seja de uma perspectiva psicológica ou religiosa cristã, acho que é preciso nos desarmar um pouco, deixar nossas certezas e convicções um pouco de lado e abrir o leque de oportunidades, conviver, escutar e também nos expressar, pois se tem algo que a vida prova em todos os sentidos é que ela é composta de movimento, mudança e, consequentemente, não cabe em um único pensamento engessado, que seria imóvel e a imobilidade é igual a morte.

Sim, morte. Aquele último inimigo a ser vencido que, aparentemente, Jesus venceu. Seja pelo lado da ressurreição, seja pelo fato de ter deixado um legado imortal que se traduz em compaixão, amor, assunção de responsabilidades e protagonismo na vida com significado.

Assim, o inferno institucional, fechado e imutável não existe e nem poderia, pois não abarcaria a vida tal como é com suas transformações. O inferno de se viver longe de Deus pode ser aqui e agora, e muitas vezes o é. Assim como o Vale de Hinom da antiga Jerusalém, depósito de lixo e para onde os excluídos iam “viver”. Deus desaparece onde não há esperança e compaixão e, portanto, ali é o inferno. Assim foi com o Geena (onde também ocorreram sacrifícios humanos tempos antes por permissão de um rei de Israel) e assim como é em qualquer lugar onde os homens todos se olham como inimigos e sem respeito pela vida.

Volto ao início, porém e reafirmo: nos termos “clássicos”, se é que se pode dizer isso, o inferno não existe! No entanto, nossa imaginação sobre ele prova como somos férteis e, direcionando nossas capacidades para as questões certas, temos muito potencial, aquele que ninguém vê… quer dizer, talvez Ele veja!

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Publicado por

RDS

Jornalista, escritor, metido a poeta e comediante. Adorador de filmes e livros, quem sabe um filósofo desocupado. Romântico incorrigível. Um menino que começou a ter barba. Filho de italianos, mas brasileiro. Emotivo, sarcástico e crítico, mas só às vezes.

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