Voltando para Jesus, por que, então, Deus sacrificaria seu próprio filho (e a si mesmo, no caso) para pagar uma dívida que Ele mesmo está cobrando? Seria como pegar um empréstimo consigo mesmo e ainda cobrar juros.
A resposta para mim é mais um sinônimo do amor divino: Ele fez isso por nós.
Se voltarmos no tempo, todo esse lance de dívida de sangue para aplacar forças da natureza, deuses e etc. foi uma criação nossa, dos seres humanos. E nesse ponto posso até ser tido como ateu, pois se tirarmos Deus da equação, mas considerarmos um pensamento que foi evoluindo pela história humana, é fácil ver como iniciamos com sacrifícios humanos de sangue (crianças, virgens, etc.), relegamos a limpeza dos pecados ao sacrifício de animais (cordeiros, pombos, bezerros) e até a ofertas de nossa agricultura. E então chegamos em Jesus.
A ideia de Cristo é que a “dívida impagável” já está paga, ou melhor, não tem ninguém cobrando e a gente “só” precisa se arrepender, pedir perdão e atuar com sinceridade de coração e vigilância para receber nosso “prêmio” da salvação.
Psicologicamente, nos culpamos por mil coisas que fazemos, dizemos, pensamos ou mesmo por nossas omissões. Esse peso de consciência pode ser traduzido em um super ego castrador e impeditivo, em especial por condenar nossos desejos, advindos da fonte das pulsões, o id. O que quero dizer com isso é que não aceitamos nossos desejos escusos, não aceitamos que podemos tê-los e, sem encará-los, vivemos sob seu peso e sua sombra, sem podermos nos afirmar como sujeitos sobre o que nos domina.
Em vez de admitirmos o que não gostamos (ou não entendemos) a nosso respeito e investigar mais a fundo, ignoramos, olhamos para o outro lado, mas algo em nossa consciência pesa e nos chama a atenção, até porque o corpo fala, os atos falham e ora ou outra a coisa aparece.
Como o Super ego é violento, em determinada maneira, encontramos refúgio temporário em passar nossos pecados para um outro receptáculo e, matando-o, quitamos nossa dívida, ao menos temporariamente, aplacando uma “ira superior”.
Nosso mal-estar sob o não controle do tempo que nos leva à morte, sobre as forças da natureza e sobre a vontade de outros seres (se não controlamos nem as nossas, imaginem!) nos faz criar uma ficção sobre a reponsabilidade desses acontecimentos e, numa débil tentativa de obter algum tipo de controle ou garantia, colocamos nas mãos de Deus esse julgamento que fazemos sobre nós mesmos e as coisas da vida.
A ideia não é nova, Freud já colocou tudo isso muito bem, em especial em seu texto “O mal-estar na civilização”.
O que é novo, sob meu olhar, é a junção de ciência e religião, pois, para mim, elas têm de andar juntas e não brigadas, até porque não conhecemos nenhuma das duas em sua totalidade.
Em vez desse Deus julgador, pesado, como nós mesmos somos conosco e com os demais, Jesus vem revelar a face de amor, paz e trazer um fardo mais leve, como as escrituras afirmam que ele propõe.
Assim, quando Deus envia seu filho para nos ensinar e, a seguir, permite que seja sacrificado enquanto pede perdão pela tolice de seus algozes (todos nós, em tese), na verdade, Ele não está querendo aplacar a própria sede de sangue, mas sim a nossa por nós mesmos.
Se tudo se deu como o contado, Deus, assim, realizou tudo isso pela contrariedade de nossa mente e para mostrar, na prática, que é sobre graça, sempre foi! Na verdade, Ele não queria pagamento de dívidas, mas queria nos mostrar que estávamos livres da culpa pelo seu ato de misericórdia e sacrifício, de seu filho e de Si mesmo, pois nos ama muito e nos desejou antes de existirmos.
Ele nos perdoa para que possamos entender que devemos perdoar a nós mesmos e aos outros para podermos amadurecer e seguir em frente, sem a necessidade de carregar o peso da culpa por toda a existência.
Psicologicamente, Ele quer nos salvar, pois o pecado, e na consequência de seu conhecimento (lembra de Adão e Eva e a árvore do conhecimento? Pois aqui a metáfora se fecha) a culpa, resulta em morte! Não porque Deus mata, mas porque nos afasta da paz, do amor, do carinho, da oportunidade de recomeçar, ou seja, Dele, que é a vida, movimento, recomeço, criação.
Logo, inferno é sinônimo de morte e sofrimento quando nos distancia Dele, não porque Ele vira o rosto aos pecadores, mas porque nos deixa cegos e não vemos que “Ele está em todos os lugares, em tudo”.
Na minha visão, a vida em geral é um grande projeto de evolução e redenção, onde aprendemos, pouco a pouco, a entender o coração de Deus e esse “sopro” Dele que permanece em nós e nos guia ao melhor… desde que possamos dar ouvidos, largar as pedras que temos nas mãos e dar uma outra chance, para as pessoas e nós mesmos.
Quanto mais distantes de Jesus em seu exemplo de como viver feliz, desapegado, dando atenção às pessoas e “bastando a cada dia o seu próprio mal”, mais deformados como seres humanos ficamos e mais atrocidades se acumulam em nossa história.
Não é sobre justiça, é sobre redenção, perdão e, em especial, graça.
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