– Eu falei que era perigoso. Era para ser só um caso, coisa rápida, coisa de uma noite… Duas, no máximo. Mas não foi… – o tom dela era ameno, explicativo, pois estava apenas afirmando o óbvio, era necessário falar, no entanto, desafogar o peito, ter a certeza de que não era apenas ela que sentia aquilo.
– Eu não podia, não devia. Nos apaixonarmos não era parte do plano. Agora, não sei o que fazer – ele sabia que estava errado e se desculpava no tom de suas palavras, mas com o brilho de seu olhar mostrando o quanto seu coração e seu corpo a desejavam.
Estudavam no mesmo local, já não eram crianças. Dizem que ninguém mais é quando está na universidade, mas os dois sentiam palpitações que apenas um coração infantil poderia produzir. Aceleradas, fortes.
Ele namorava, ela não.
Deveriam, precisavam continuar apenas amigos, mas há certas coisas que fogem um pouco ao nosso controle. É difícil conter o desejo quando os olhos faíscam.
Quando se viam, alegravam-se como o coração de um infante no Natal. Sempre que os olhos claros dele e os castanhos (esverdeados) dela se encontravam, era Natal dentro dos dois. Vê-la e não poder tocá-la era como ter de aguardar até a meia-noite para abrir um presente que era certeza ser seu… Mas o horário nunca chegava.
O caso se estendeu além do que devia, foram pegos. Não havia como não!
Dedos foram apontados, culpados buscados, a situação não permitia mais que estivessem juntos. A vida preferiu afastá-los… Até que se esbarraram.
Era uma noite quente numa lanchonete de verão, com varanda e um cardápio com sucos, açaí e tapioca. Tinha cerveja também, mas não queriam. Quando se viram, quiseram ter a certeza de que estavam sóbrios e que nada daquilo era um sonho.
Ao fundo, o rapaz com violão que fazia um som ao vivo enquanto cantava fez uma pausa. Precisava de uma água, dar uma respirada – todos precisamos de vez em quando.
Eles aproveitaram e suspiraram, precisavam de ar, de oxigênio que se transformasse em energia e os permitisse captar cada detalhe. Nas caixas de som começou a tocar uma música da rádio. “Hey, I was doing just fine before I met you…”.
Sentaram-se juntos, esqueceram os motivos que os levaram ali, só importava que ali estavam. Como no primeiro bar, durante o primeiro chope, a gargalhada sincera dela, o toque dele em sua pele macia, o olhar que não enganava e chamava, pedia.
“Four years no calls…”
Cinco, seis anos, quem sabe, haviam se passado desde toda aquela confusão – ninguém estava contando, ninguém queria: o tempo congelou por alguns segundos, como se vivessem à beira de um buraco negro… não, o tempo parara mas havia luz, mais do que nunca.
Ao fundo, as luzes da catedral iluminavam sua silhueta que emoldurava a cena dos dois, quase como uma bênção prévia.
Olhavam-se abismados, não souberam exatamente o que falar ou o que fazer por alguns segundos depois do “oi”. E então tudo ficou tão óbvio.
“I can’t stop…”.
Beijaram-se! Com ímpeto, com paixão, com um abraço para finalizar, lembrando a primeira vez quando “quebraram o gelo da mesma forma”.
Se alguma dúvida havia que o desejo entre eles permanecia, ali ela sumiu junto a todas as outras.
– Eu falei que era perigoso. Era para ser só um caso, coisa rápida, coisa de uma noite… Duas, no máximo. Mas não foi… – o tom dela era ameno.
– Eu… – mas dessa vez era diferente, ele estava sozinho, ela também – posso, eu quero, eu devo! Nos apaixonarmos não era parte do plano. Mas agora podemos planejar o que quisermos.
Não começaram a namorar ali, mas uma nova chance se abria, um novo faiscar no olhar, regado a suco e açaí.
“So, babe, pull me closer…”.
Ele a acompanhou na saída…
Soou meia-noite na catedral enquanto ele, finalmente e novamente, desembrulhava seu presente. Sem culpas dessa vez!
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