Sendo um, sendo todos

O céu se abre num azul esplêndido e mais um dia raia. Ele levanta coçando os olhos, meio puto porque se esqueceu de fechar as venezianas da janela, mas feliz por ver que há sol – ele não gosta de dias nublados. De certa forma, seu humor acompanha as cores celestes.

Se nuvens o cobrem, parece pesar também sobre ele uma massa disforme que tira o colorido de seus momentos. Gay, talvez, mas não menos verdade. E isso não ocorre apenas com o céu, acontece com o ar, com as pessoas ao seu redor.

Ele é um radar de sentimentos, captando, depurando e traduzindo cada emoção, mesmo as que não são suas. Mesmo que as palavras às vezes não deem conta de fazê-lo totalmente… e elas nunca dão, mas ele segue tentando.

Todas as diversas músicas que escuta contam a sua história. Ele sente tudo o que acontece nelas. A descrição da festa ou da briga, o amor eterno, a empolgação, a diversão, a angústia, as dores, os amores perdidos e vividos, os não realizados, as amizades vindouras, as antigas, as vitórias, as derrotas, as belas conquistas e desejos. Tudo é ele e seu eu quase não existe, afinal, porque se perde no tudo que o compõe…

É isso, ele absorve!

E por absorver, mesmo que nos seus não exista, ele quer um sorriso nos lábios alheios. Pois ele sabe que o alheio também lhe pertence, também é parte dele. Por isso é tão bom ver o outro sorrir, a menina cantar, o amigo refletir, a garota bailar bela com os cabelos soltos – seja na pista de dança, seja num quarto onde apenas os dois se encontram, bailando e cantando como dois loucos.

Ele absorve os amores que viveu e os quais deixou de viver, lembra-se de todos os beijos e os estala nos lábios de sua memória ou imaginação de vez e quando, porque um beijo se acaba, mas nunca se perde para quem sabe sorver toda sua delícia, conexão e prazer.

Lembra-se das conversas até de madrugada, fossem numa mesa da casa de um amigo, após uma festa, fossem num quarto, deitado na cama, ou mesmo em intermináveis mensagens engraçadas e interessantes que o faziam ficar acordado, desde adolescente, quando era necessário aguardar até a meia-noite para se conectar a uma lenta rede.

Ele se lembra, ele vê, ele sente pelo outro.

Sente muito por cada afastamento e distância, pois queria ser de tudo um pouco, se doar um pouco a cada pessoa e ver vários sorrisos e gargalhadas espocando por aí. Mas sente alegria por cada rosto alegre que viu e provocou, por cada som belo que seus ouvidos tiveram a oportunidade de conhecer, por cada toque de pele que suas mãos sentiram, por cada suspiro ou gargalhada que presenciou. Fez muitas histórias, apesar de ter apenas a sua própria.

Porque ele absorve, e só é feliz quando os outros também o são. E, apesar de isso lhe trazer, ao mesmo tempo, as dores que os outros vivem ou sentem, ele prefere fazer parte e compartilhar, pois é maravilhoso ter um pedaço de cada pessoa em si. Ser um quebra-cabeça montado com pessoas que passam, fizeram e fazem parte de sua vida.

Não consegue ser apenas um, apesar de o ser…

Imagem daqui

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Publicado por

RDS

Jornalista, escritor, metido a poeta e comediante. Adorador de filmes e livros, quem sabe um filósofo desocupado. Romântico incorrigível. Um menino que começou a ter barba. Filho de italianos, mas brasileiro. Emotivo, sarcástico e crítico, mas só às vezes.

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