1 – Sim, eu vou ao cinema sozinho. Adoro isso e não vejo problema.
2 – Mas você mora numa cidade com mais de 10 milhões de habitantes, não encontrou ninguém para ir contigo?
1 – Não é esse o ponto, eu não queria chamar ninguém.
2 – Você odeia as pessoas?
1 – Não, e eu não disse isso. Só acho que, às vezes, é muito gostoso sentar, assistir um filme, tirar minhas próprias conclusões, poder me concentrar no que eu sinto a respeito da obra e não confundir meus sentimentos com os da pessoa que me acompanha, coisa que é muito comum.
2 – Você não se importa com a opinião alheia, é isso?
1 – Também não foi o que eu disse. Eu me importo demais com o que os outros pensam a meu respeito, até porque, parte de mim depende muito do que outras pessoas veem em mim. Entretanto, ficar só e pensar de sua própria maneira é tão importante quanto.
2 – Você, então, é uma daquelas pessoas que pensa tanto que já sabe a resposta de tudo e é “melhor que os outros”?
1 – Nem por brincadeira! Ao contrário, se digo que preciso pensar sobre as coisas é justamente o oposto, não tenho certeza de quase nada.
2 – Então é daqueles que não têm princípios e para quem qualquer barbaridade funciona.
1 – Não ter certeza das coisas e se manter aberto a discussões é totalmente diferente de não ter a própria opinião e crenças. O que nos leva ao ponto inicial… é preciso um tempo para pensar, seja um cinema, um passeio num parque ou um silêncio numa poltrona.
2 – Acho seu pensamento burguês!
1 – Eu só acho que pensar faz a diferença!
2 – Idealismo romântico achar que isso faz de você diferente e que pode mudar o mundo.
1 – E você?
2 – Eu o quê?
1 – O que você pensa, o que você acha, o que acredita? Você sabe colocar rótulos: solitário, burguês, romântico, arrogante, dono da verdade… Mas o que você é, sabe ou pensa?
2 – Eu…
1 – Colocar uma ideia, comportamento ou teoria numa caixa do tipo “filosofia”, “teologia”, “romantismo”, etc., pode ser bem prático e reconfortante, mas isso não o faz pensar, não explica nada, não desenvolve as coisas e nem te permite criar ou analisar algo criado. Classificação só importa se existe um passo além, caso contrário é pura construção de tabela.
2 – Ah, você é daqueles que criticam tudo né? Ei, para onde você vai, espere aí… Está vendo? É daqueles que sai andando sem terminar o assunto!
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