Ontem fui a um casamento muito gostoso. O casal maravilhoso de amigos meus estava rodeado de gente querida por eles e por mim. Não vou comentar a festa divertida, as risadas em conjunto e as danças (com passinhos um tanto toscos – daqueles os quais ninguém se importa em parecer um pouquinho bobo porque está em um ambiente no qual ser desengonçado é bom), tudo isso é parte praticamente subentendida quando se está com pessoas tão boas.
O que me impressionou, no entanto, foi a sacada incrível durante a cerimônia. Já chego lá.
A igreja era linda, com luzes amareladas que davam aquele ar de aconchego. Combinadas com arranjos de flores claras, a mistura de alvenaria clara e partes de madeira mais escura na construção davam um ar de contraste que enriquecia o olhar.
Sobre a cabeça de todos, no centro do corredor que desembocava na nave principal da catedral, havia uma enorme cruz de madeira, suspensa, sem ninguém ali sacrificado – quiçá como uma forma de dizer que Ele ali já não mais está, para dar esperança aos corações ressequidos pela torrente urbana que nos arrasta.
Aquele clima me envolveu de alguma forma diferente. Quando vejo pessoas que amo se realizando dessa forma, eu sempre me emociono, mas nunca choro. Acho, antes, que é momento para aquela alegria entusiasmada. Tanto mais é que, em todas as situações assim, na maioria, eu assumo aquele ar de sorriso que não desmancha e acrescento pequenas observações cômicas ao ambiente e detalhes ao redor. Isso dá um ânimo e uma cor diferente para as celebrações.
Algumas pessoas acham que esse tipo de evento é enfadonho, eu me divirto e respeito de uma forma bem humorada. Humor também tinha o sacerdote que realizou o casamento, uma estrela, chamava para a si a atenção, mas não desmerecia nada, ao contrário, exaltava mais ainda o momento e sua solenidade. Bonitas e alegres palavras.
O clima todo preparado, os corações batendo forte, as amigas da noiva chorando; os amigos do noivo fingindo chorar a perda de um amigo para o “time dos casados”, mas tão felizes quanto as garotas, sem demonstrar. As tias se acabando de emoção, a noiva tentando manter um sorriso que se misturava às lagrimas, aquelas que a alegria derrama sem que percebamos às vezes.
O noivo parecendo tranquilo, mas um pouco nervoso. Ria de algumas piadas inevitáveis, sorria com a boca um pouco seca. Declarou-se para a noiva, trocaram discursos cuidadosamente preparados, acalentando ainda mais os corações.
A sacada, pois é…
E quem trouxe as alianças, próximo do derradeiro momento da cerimônia? Duas vovós… Isso mesmo!
A genialidade, a demonstração de respeito nesse ato foi o que eu achei incrível.
Na maioria das vezes, são crianças que trazem as alianças. Talvez como a promessa de renovação, de um novo nascimento após o casamento e tantas outras simbologias.
Entretanto, a meu ver, ao colocarem as avós, aquilo simbolizava uma outra promessa: a de cumplicidade a longo prazo, a de longevidade, de valorização de coisas mais perenes.
Era a promessa de que o novo, que ora começava, estava sendo pensado e realizado para uma tentativa de eternidade. Impossível, talvez; difícil, provavelmente; mas com o início que tudo o que é bom pede: com um primeiro passo bem colocado.
Aquilo me emocionou, por elas, por eles, pela crença e realização que ainda existe no amor entre pessoas que se gostam e querem fazer o bem.
O mundo pode dar voltas e nem parece muito bom ultimamente, mas a existência dessas tais promessas, tentativas e pessoas é o que faz a gente pensar, e me faz reafirmar uma velha máxima do meu primeiro livro.
“A vida, por mais problemas que se tenha, vale a pena!”.
Talvez venha o dia em que eu me deprima, que eu não saiba explicar o porquê dessas palavras fazerem tanto sentido e que nem mais queira viver, mas só talvez. Por enquanto, elas ardem no meu peito e mostram uma centelha de alguma luz que, quem sabe nem no fim do túnel ela esteja, mas ainda assim lança uma claridade que pode não guiar, mas deixa entrever que sempre existe um caminho a se seguir.
Parabéns aos noivos, aos amigos, às famílias… E que aquelas duas belas senhoras, tão orgulhosas de entrarem na igreja pela porta principal e com destaque (como fizeram muitos anos antes em algum conto perdido que elas podem reproduzir numa tarde abafada) saibam que levaram muito mais do que apenas as alianças, levaram um brilho de olhar, uma força para continuar e o encanto de quem luta ao lado de quem ama.
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