A garota de amarelo

AMARELO2 Ela dava risinhos macios durante aquele filme que não era para ser tão engraçado, um drama na verdade. Veio sozinha, poucos minutos depois de a sessão ter começado. Sentou-se ao meu lado e algo me invadiu. Não foi apenas aquele nervosismo inicial de ter de compartilhar um espaço que antes você acreditava vazio, ela preenchia o ar.

Inspirei profundamente, talvez por uma cena do filme, talvez para sentir o que quer que fosse que me rodeava, e notei um perfume delicioso. Era doce, mas não enjoativo, marcante, mas não impedia-me de diferenciar outros aromas.

Perfume de uma garota que encosta o queixo no próprio ombro quando olha para o lado, só para dar mais meiguice às suas feições.

Quem era ela?

Não era conhecida, com certeza.

Pelo que pude notar, sua beleza não era exuberante, daquelas que traduzem uma mulher fatal, não. Era uma mulher diferente. Seus risos me conquistavam, quase leves gemidos; até mesmo quando inspirava forte em alguma cena de tensão, conquista.

Invadiu-me como um fio d’água que percorre sulcos na terra até formar um riacho. Sua presença ali fez-me dispersar da película (palavra um tanto inadequada na era digital) e divagar sobre ela. Quem seria? Como seria? Manteria o ar meigo no dia a dia?

Sua imersão com a tela só era interrompida por seu celular, que insistia em vibrar, e ela insistia em desligá-lo. Depois de algum tempo notei um vínculo entre nós: quando era eu quem achava algo engraçado e soltava o ar rapidamente de modo a demonstrar um quase início de riso, ela me acompanhava. Apaixonante…

Além de tudo, companheira!

Quando o filme mostrava alguma perna de outra mulher eu quase me constrangia, com medo de que ela pensasse que eu estivesse pensando na outra e não nela. Ela parecia não se incomodar.

Cada vez que se movia, seu perfume invadia o ar. Cada vez que dava um risinho, desmanchava meu coração. A cada vez que reagia a uma cena forte, queria abraçá-la.

A sessão acabou e eu saí de lá com um misto de emoções do filme e com uma paixão que nunca mais encontrarei nessa metrópole cinza.

Só me restou a lembrança de um ótimo filme juntos, seu perfume e a pergunta:

Quem era a garota de amarelo?

 

 

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Publicado por

RDS

Jornalista, escritor, metido a poeta e comediante. Adorador de filmes e livros, quem sabe um filósofo desocupado. Romântico incorrigível. Um menino que começou a ter barba. Filho de italianos, mas brasileiro. Emotivo, sarcástico e crítico, mas só às vezes.

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