– Sinto falta de ligar para uma garota e ficar horas ao telefone com ela. Falar sobre o dia, situações, pessoas, contar piadas, desabar, escutá-la falar de si e do que pensa. Conversar sobre teorias loucas, ideias que nos acometem. Conversar por tanto tempo que invada a madrugada, que a madrugada nos invada, com aquela sensação quente de uma noite de verão. Poder falar de coisas corriqueiras como se fossem novidades; poder falar de tudo, menos da paixão e do prazer que é compartilhar aquele momento.
– Seria proibido?
– Não. Apenas não seria necessário. Prazer se sente, não se comenta.
– E o que é, então, que você está fazendo agora?
– Estou sentindo saudades, essa sim uma sensação para render horas de conversas, memórias narradas e suspiros.
– Se existem os suspiros, há também o prazer.
– Sim, há! Mas ele já não é pelo ocorrido e sim pela delícia de revivê-lo na mente. O prazer do ocorrido não foi falado no momento em que ocorria, e o prazer de lembrar estava ocorrendo só agora.
– Então me fale mais deste prazer.
– Não dá!
– E por quê não?
– Porque você quebrou o clima evidenciando o quanto eu me divertia com memórias e coisas simples.
– E o que isso deveria querer dizer?
– Não faço ideia, mas brochei psicologicamente. A gente só pode ser feliz quando não pensa na felicidade em si e sim na alegria momentânea…
– Isso é mentira, você não consegue gozar momentos se não alienar-se deles?
– Não!
– Se assim fosse, não existiria o sexo.
– É por essas e outras que não dá para ter prazer pensando em vagina, uretra, saco escrotal e ovários, temos de nos alienar e reencontrar tais objetos sob outra forma. A técnica mata a arte.
– E que arte é essa?
– Não preciso apontá-la, você a conhece.
– Como assim?
– A arte de foder. Assim como você fez com as minhas lembranças…
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