– Oi, Jonas! O que você está fazendo com essas tabelas aí? Não era para já ter enviado, não? – ela se debruçou sobre o ombro do colega para melhor visualizar a tela do computador. Seu decote deixava entrever boa parte dos seios avantajados.
Jonas desviou levemente o olhar para o busto da companheira de escritório e fitou por alguns instantes aquela pele macia, aquela carne clara que lhe parecia apetitosa, que lhe instigava desejos ardentes.
Gabriela era companheira de escritório de Jonas já há um ano e meio. Trabalhavam juntos na mesma sala. Ela tinha os cabelos longos e lisos. Apesar da pele clara, seus cabelos eram negros como seus olhos. Gabriela tinha ares de moleca, brincalhona. Fez amizade com Jonas poucos dias depois de adentrar o escritório. Desde então, passavam um bom tempo do dia juntos. Almoçavam, tomavam cafezinho e até fumavam um cigarro ou outro. Gabriela não fumava, mas aproveitava as pausas de Jonas para bater-papo com ele fora da sala selada com ar-condicionado.
– Na verdade, eu já deveria tê-las mandado sim. Mas o dia está tão preguiçoso que nem me preocupei.
Ela fez mais alguma brincadeira e voltou para sua mesa. Jonas olhou os contornos da mulher e apreciou suas curvas.
Gabriela era pouco mais nova que Jonas, ela namorava, ele era casado. Nunca tinham tido nenhum tipo de caso, mas ele tinha certeza de que ela lhe dava bola. Ele achava a menina divertida, uma boa companhia, e não podia negar que também flertava com ela. Era como um dispositivo de segurança.
Jonas amava sua esposa, estavam juntos há mais de cinco anos e ainda ardiam de paixão um pelo outro. Contudo, a vontade por outras carnes aparecia de vez em quando. Na maior parte das vezes era fácil de dissipá-la, bastava não pensar na garota que lhe causava desejos. Com Gabriela era diferente, estavam todos os dias juntos, era muita influência para fingir que não existia. Entretanto, Jonas nunca pensou em Gabriela quando fazia amor com sua esposa, aquele momento era só de sua companheira, uma barreira intransponível. Ele era fiel e ponto.
Apesar da situação, ele nunca caiu nos encantos da garota a ponto de puxá-la para si e beijá-la. Ele sabia que ela não daria o primeiro passo, mesmo se fazendo disponível a ele. Ele poderia enlaçá-la pela cintura e colar seus corpos, ela não resistiria. Mas era toda essa sensação que permitia a Jonas se controlar e não trair nunca sua mulher.
O flerte velado que existia entre Jonas e Gabriela permitia que ele apenas fantasiasse, por alguns momentos de seu dia, com a garota e deixasse a realidade de lado, sem força. Assim, conseguia voltar para casa com a consciência limpa e abraçar a esposa sem remorsos.
A vontade de dar uma escapada e a permissão que ele se dava de pensar nisso eram os fatores que lhe permitiam manter os desejos sob controle.
Gabriela provocava-o com roupas, toques suaves, abraços carentes e histórias picantes de seu relacionamento. Ele se mantinha como uma rocha. Sorria, comentava, deixava-se tocar, mas sempre desenhando um limite claro. Ela respeitava a linha e parecia desejá-lo mais a cada vez que o via como um ser incorruptível, era quase como um desafio.
O pequeno jogo era tão gostoso que dava uma razão a mais para enfrentar o dia de trabalho no escritório. Aquela chatice sem fim.
Certo dia, dez anos depois de já estarem trabalhando juntos, Gabriela morreu. A mulher teve uma tontura quando atravessava a rua e bateu num carro que vinha em velocidade normal pela via. Seu corpo não sofreu grandes danos, mas ela acertou a têmpora na calçada e teve morte cerebral.
Todos no escritório ficaram tristes. Jonas em especial estava resignado. Não chorava copiosamente, mas deixou cair algumas lágrimas, pensando nos bons momentos e em como a amiga era uma boa pessoa. Ela estava bela, mesmo morta, em seu vestido, no caixão.
Naquela noite, Jonas chegou em casa e sua mulher o abraçou, dando-lhe os pêsames pela perda da colega. Ele abraçou a esposa de volta e, num desses movimentos loucos de sentimentos, a tristeza quente que sentia e o abraço da mulher despertou-lhe o desejo sexual.
Fizeram amor na sala, na cozinha e, por fim, no quarto do casal. Foi um sexo quente, com pitadas selvagens e um ritmo intenso.
A esposa gostou do ato apaixonado. Jonas nunca iria lhe contar que pensou em Gabriela durante todo o momento. Naquele dia, ele se permitiu pensar na colega de trabalho que havia partido.
Não era traição, era uma homenagem!
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