Série Legião: textos musicais. Daquilo que não dura tudo o que gostaríamos nem tão pouco para nos deixar intactos…
Rodem a música, leiam o texto e não despedacem os corações. Os seus e de seus amados e amadas.
Prólogo: A canção de uma velha desilusão
Lá está a velha senhora com dor
Varrendo cacos ao redor do coração
Juntando pedaços de uma emoção
Despedaçada, enquanto chora de amor
Anos depois, lá está a velha senhora colando o coração,
Varrendo nostalgia ao redor do peito,
Juntando pedaços de uma emoção,
Lembrando do príncipe em seu leito…
– Eu não me perdi… E mesmo assim você me abandonou.
– Foi você quem quis partir, e agora estou sozinho…
– Você está sozinho? Você só pensa em você, não é? E tudo o que senti quando soube, como você acha que eu estou por dentro?
Estavam os dois com os olhos vermelhos, molhados. As palavras oscilavam entre um balbuciar tolo e arroubos elevados que se erguiam como labaredas de um vulcão para logo se acalmarem. O fim nunca é simples.
Ela estava de verde escuro, contrastando com sua pele clara. Seus olhos castanhos destacavam-se em seu rosto sério, antes enfeitado por um enorme sorriso. Sorriso que ele costumava provocar. Não mais.
Ele era só sobriedade, uma rocha. Quando falava, fazia cada palavra ser uma farpa, mas sabia que ela estava certa.
– Você simplesmente saiu, me deixou sozinho. Mas vou me acostumar com o silêncio em casa, com um prato só na mesa…
– O que você esperava? Eu não me perdi, e mesmo assim você foi buscar algo que nem você sabe em outras.
Ele baixou a cabeça, envergonhado, quando ela finalmente colocou em palavras tudo o que os sentimentos borbulhavam. Mais algumas lágrimas foram derramadas. Por um momento a menina de verde se sentiu vingada, estava causando dor àquele que a machucara, mas algo mudou. Caminhou até ele e, mesmo sentindo um misto de raiva e dor, abraçou-o. O sândalo perfuma o machado que o feriu. Assim também ela consolava aquele que lhe fizera sangrar por dentro.
"Adeus, adeus, adeus… meu grande amor" – ela parecia dizer com aquele último abraço de consolo.
O que mais doía era saber de todo o sentimento que tinha por ele. Ele era o seu príncipe encantado, era para ser ele e ninguém mais. Doía porque ela ainda o amava, pelo que tinha sido, pelo que poderia ter sido, e por tudo que imaginou que seria. Sonhos quebrados como cacos, como seu próprio coração. E tanto faz, agora…
– Você sabe – ele disse – de tudo o que ficou, eu ainda guardo um retrato teu e a saudade mais bonita.
– Chega! Eu não me perdi, e mesmo assim ninguém me perdoou. Você não me perdoou por deixar de me amar, por não encontrar em mim aquilo que queria. Não dá mais, pobre coração!
– Quando o teu estava comigo era tão bom… – ele estava entre o pedido de desculpas e a vontade voltar, mas alguns limites, depois de cruzados, não têm retorno.
– Mas você o tratou como papel e ele era frágil – ela tentava ser forte, segurando-se para não desabar a cada palavra proferida.
– Não sei por quê acontece assim e… é sem querer. Eu não queria…
– Mas fez e está feito, mesmo o quê não era pra ser. Agora, vou fugir dessa dor.
– Meu amor…
– Quieto, por favor. Se quiseres voltar, volta não, porque me quebraste em mil pedaços.
Epílogo: A canção de uma velha desilusão (fim)
Quebrada em mil pedaços
Pelo amor de sua vida
Conta cada um de seus passos
Nessa longa estrada só de ida
Na fuga de um amor imperfeito
Na lembrança de um decadente
A rememorar o tal príncipe sem jeito
De alma pura e atitude indecente
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