Desculpem-me, mas eu não consigo mais. Não dá mais para levar isso adiante, não consigo mais viver sem saber… sem saber nem eu mesmo sei o quê e, se talvez soubesse o que não sei, a angústia não existisse.
Peço perdão para aqueles que confiaram em mim, peço desculpas sinceras para aqueles que perderam seu precioso tempo comigo, que amaram alguém que desistiu, mas não consigo mais ficar nessa vida. Não porque esteja dura demais, nem porque me falte amor. Também não posso dizer que esteja em depressão ou que não entenda a natureza dos homens. Só não quero participar disso tudo, não mais!
Não suporto, simplesmente. É muita coisa na minha cabeça, muitos sentimentos em meu peito, muitas palavras não ditas no meu coração, e minha boca já está cansada de falar. Viver é bom, mas estou curioso para saber se tem algo além, se continua ou acaba. Se acabar de vez, talvez eu devesse ter escolhido ficar mais um pouco.
É tão difícil escolher entre tantas coisas. Tão difícil ser fiel com nossos sentimentos, com nossos princípios; tão difícil crer num Deus e mais difícil ainda não crê-lo. Já tentei os dois, não sei o que me restou agora.
Queria ser mais presente para meus amigos, minha garota, minha família, para mim mesmo, mas sempre fico devendo.
Não sei se é a pressão do tempo que não suporto, porque a ideia de ficar velho me é agradável. Sempre pensei na velhice como sinônimo de sabedoria, eu sempre quis ser sábio, passar algo bom à frente, acho que fracassei nisso também.
Tantas palavras que usei, desperdicei, manchei papéis e não sei se fiz a diferença para alguém… Nem mesmo sei se eu acreditei em minhas palavras, ou se eu fazia os outros crerem nelas para que eu pudesse ver alguma verdade no que eu dizia. Eu precisava que outros acreditassem antes de validá-las para mim.
Eu arrasto uma angústia pela vida desde que me conheço e nem mesmo entendo o motivo!
Eu não suporto mais lidar com o bem e o mal em mim.
Não consigo mais ter essa bondade que não me permite machucar ninguém, mas ainda assim ser dominado por essa maldade crescente de querer satisfazer meus prazeres acima de tudo. Não consigo pensar em mim e nem nos outros. Não estou, mas sou estilhaçado. É tão difícil.
O que eu ainda tenho de fazer aqui? Deixe-me partir, chega!
Por favor, só não procurem culpados. Não estou partindo por culpa do chefe, do trabalho, dos estudos, dos pais, dos amigos, da namorada, de alguma briga. Não olhem ninguém como se tivessem algum tipo de culpa velada, deixem-me com minha única opção verdadeira, a de buscar algo desconhecido, a verdadeira coragem.
Se procurarem um culpado, todos serão, então deixem, sem culpados. Este corpo sem vida que agora lhes fala através de palavras dantes escritas – maravilhas dos códigos – só pede que saibam que a dor se ameniza e, se querem fazer algo por mim, não busquem ninguém, mas respeitem minha memória, meu pedido, minha decisão.
Eu decidi partir, não queria mais. Fiquem com minha lembrança, minhas palavras e fiquem bem. Sem culpa sobre nenhum de vocês, e nem sobre mim…
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