Afinal de contas, para onde é que as baratas estão tentando ir? Eu não entendo o conceito de ser barata.
Você é uma barata, está lá nos esgotos com a sua turma, provavelmente conhece a galera vizinha do lixão onde sempre rola festa porque tem comida, daí você resolve entrar na minha casa… Qual é a ideia por trás disso? O que ela busca aqui, afinal?
Ela achou que só porque eu estava olhando para a TV, não iria notar uma rápida corrida da porta da sala até a cozinha?
O pior é ela tentar se "esconder" no meio do meu azulejo branco. Porra! Você é marrom, esse é o pior local. É tipo um pedaço de merda tentando se esconder num pacote de papel sulfite, não rola.
O que mais me incomoda, de verdade, o que me faz matar uma barata, é a tentativa de malandragem dela. Porque, se quando ela percebesse minha presença, se ela tentasse fugir pelo ralo ou sair pela porta para escapar pelo bueiro, eu deixaria.
O irritante é ela me "ver", sair correndo, e se enfiar atrás do motor da minha geladeira. Quem ela acha que é? O único animal que eu tive que fazia isso era minha tartaruga!
E quão desesperador não é quando a gente cai na besteira de usar a droga do inseticida em vez de um chinelo e a bicha começa a se debater como se estivesse tendo um ataque epilético numa cadeira elétrica, tudo junto? E o mais desesperador não é isso.
O pânico aparece quando ela para de se debater, você sai para pegar algo para recolher o corpo e, quando volta, a barata sumiu! Já rezei até Pai Nosso pra encontrar barata de madrugada pra poder dormir antes de ir trabalhar no dia seguinte.
Você já tentou matar barata atrás da cortina? Pois é… É tipo morder gelatina, algodão-doce, pegar sombra, ela sempre está onde não se pode ver. A primeira chinelada é a de ouro. Avistou, atirou o chinelo. O resumo é simples: matou, matou; não matou se fudeu!
Você não quis bater forte porque atrás da cortina tinha o vidro, a cortina estava afastada da janela e não deu suporte suficiente pra pancada… as desculpas variam, mas o fato é que, quando você estiver procurando a danada na parte inferior esquerda, ela vai cair na sua nuca vinda da direita, é um dom!
Poucas coisas na vida são tão intensas como encarar uma barata de madrugada no azulejo da cozinha. Você entra no recinto acende a luz e lá está ela, no meio da parede, quase na altura de seus olhos, robusta, marrom, com um leve menear de antenas. Você não quer fazer barulho porque todos na casa já estão dormindo. A essa altura você já esqueceu da sede que o levara àquele local.
Se for homem, sente uma tranquilidade por ninguém presenciar a cena e fica à vontade para se municiar de chinelo, inseticida, detergente, álcool e, em alguns casos, uma pistola .45 que fica no alto do armário. Se for mulher, sente o desespero e o desamparo, mas ao mesmo tempo a chance única de provar seu valor e coragem diante deste drama. Mulheres têm o péssimo hábito de tentarem matar baratas com vassouras, objetos que parecem fazer cócegas nas danadas.
A barata te encara, mexe as antenas, às vezes dá alguns passos. Você e ela ficam aguardando para ver quem "saca primeiro". O primeiro movimento vai definir todo o jogo, se ela vai cair e receber o golpe de misericórdia, se vai receber uma segunda rajada de inseticida no chão, se vai despencar e correr para debaixo do fogão ou para trás da geladeira, ou mesmo se terá de ser raspada com uma espátula da parede, sim, porque, na ânsia de não errar, algumas pessoas praticamente fossilizam os animais na pedra.
A barata também tem seus momentos. Se cair no chão e correr em direção ao seu pé ela o faz pular como um louco. Se ela calcular bem o salto com a proximidade do chinelo, pode até alcançar a mão do agressor, o que o fará dançar como uma criança de cinco anos picada por uma tarântula.
O momento é difícil, amanhã você tem reunião com o chefe, já faz 20 minutos que você desceu para beber água e já está muito desperto, calcula que ainda vai demorar uns 40 minutos para voltar a dormir, não dá mais para esperar…
Você avança, ela abre as asas. "Creio em Deus pai!!!". A barata era voadora, muito além de suas expectativas.
Você grita como uma criança, acorda a casa toda e passa a próxima hora perguntando para sua esposa se não tem nada nas suas costas.
– Ela já foi embora, Alberto! Vai dormir!
– Voadora… voadora – Alberto continua sussurrando.
O melhor! O melhor! rsrsrsrsrsrs