Beep! R$2,50. Beep! R$10,35. Beep! R$3,47. Os produtos passavam pela luz vermelha constante e a tela reluzente apontava os valores a serem pagos individualmente e, no rodapé, somados.
– Agora elas vêm com nome!
– Perdão? – retruquei eu um pouco distraído.
– Elas agora vêm com nome. Todo mundo quer achar uma que tenha seu próprio nome.
A caixa do supermercado era bonita, não sei se o comentário era espontâneo, sincero, ou se estava apenas querendo ser simpática, quem sabe querendo puxar assunto com alguém no início da noite. Não sei se isso ocorre sempre, mas fazer compras aos 30 anos de idade, à noite, quando se mora sozinho é um saco. A coisa só fica boa quando o foco é bebida ou carne para uma churrascada com os amigos, não era o caso. Ela, a caixa, apontava para as latas de refrigerante que vinham com nomes aleatórios, eu tinha em mãos alguns Fernandos, Samuels e Biancas. Coloquei todos na mesma sacola.
– Deve ser para vender, como sempre! – ela disse, ainda tentando o assunto do refrigerante.
Eu nem comprava aquelas latas para mim, mas para um primo que viria me visitar no final de semana, eu prefiro sucos ultimamente, mas não tenho nada contra nada. Entretanto, decidi continuar o papo.
– E eles devem ter conseguido ganhar um dinheiro. Pelo menos em propaganda gratuita ganharam bastante. Todo mundo que acha uma lata com seu próprio nome, tira uma foto e coloca no Facebook… você já achou uma com o seu – e olhando o crachá da moça – Thaís? – ela tinha os cabelos curtos e lisos, sorriso claro. Para o padrão modelo, era baixa e acima do peso, a meu ver era uma bela moça, e bem simpática, ao menos comigo.
– Não achei ainda! Na verdade eu não gosto de refrigerante. Isso engorda! – socialista contra multinacionais ou leitora de revista de dietas? – Minha irmã toma isso daí como se fosse água, eu passo mal só de olhar, não sei como ela consegue, eu prefiro suco – leitora de revista de dietas!
– É… faz mal mesmo. Também prefiro suco ultimamente. Esse refri nem é pra mim, sabe, eu, quer dizer… e… – foi aí que me dei conta de que eu estava me justificando. Não estava paquerando a caixa, não estava passando uma cantada nela enquanto lambia a borda de uma lata para ser sexy, muito menos estava sufocando ela com pó de Tang (o que necessitaria de apenas uns dois saquinhos), eu estava me justificando.
Apenas dei um sorriso qualquer, agradeci e fui embora com as Biancas, Samuels e Fernandos nas sacolas acompanhados de um azeite, alguns sucos e uns pacotes de bolachas (sim, bolachas, porque eu sou de São Paulo e não do Rio).
Quando cheguei ao estacionamento senti saudades de conhecer alguma garota não-irritante. Senti falta de não ter a meu lado uma menina sem frescuras, que não fique assistindo a todo maldito reality show, queria conhecer uma apenas que não se preocupasse com dieta, que fosse bonita por ser, risse de um quilinho a mais que ganhasse nas férias, que não encanasse com refrigerante, que me pedisse para ensiná-la a arrotar…
Tudo bem, talvez esse não seja o quadro de amor perfeito para a maioria das pessoas, mas funcionou para mim naquele momento. E aí eu me lembrei de uma menina. Uma garota bonita, que reclamava da vida de um jeito engraçado, batia papo e até arrotava comigo em tardes perdidas num passado longínquo.
Pergunto-me como ela está, se conseguiu manter a alma fresca em meio a esse mundo doido ou se sucumbiu à pressão de "não podermos mais ser apenas pessoas num local que exige que sejamos mais, quando vemos que as pessoas são cada vez menos".
Tenho saudade de quando tudo que importava eram conversas, de muro, de telefone, no pátio da escola. Cheguei em casa naquela noite e quis me embebedar, mas não havia bebida. Abri algumas latas…
No final de semana meu primo tomou suco!
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