♫Hit the road jack and don’t you come back no more…♪
E no meio daquela tarde abafada eles se telefonam.
Eram amigos de longa data. Ela desiludida com os recentes amores falidos de homens que não sabem ser homens. Ele um pouco puto com a vida em geral e, mais especificamente, com a carreira.
A culpa podia ser dos dois, a culpa podia ser de fatores externos. Fato é que estavam sufocados.
Num bate-papo “reclamão”, veio à tona uma ideia: vamos fugir!
A partir daí os planos se desenvolveram. Fugiriam naquela tarde mesmo. Eu passo aí ou você aqui? Vamos de carro, ela perguntou. É melhor, disse ele, eles poderiam rastrear nossas passagens de ônibus.
No caso o “eles” não eram específicos, mas poderiam conotar o ex-amante perseguidor, os empregadores insuportáveis, as tarefas diárias fatigantes ou apenas uma vontade louca de apagar o passado. Não porque o passado fosse ruim, mas porque, com certeza, o presente estava uma droga.
Praia ou campo? Praia seria o refúgio.
Consideraram que deveriam ser econômicos, não poderiam gastar muito, mas encontrariam um meio de sobreviver sem um trabalho que lhes roubasse a alma. Uma vida mais simples.
“E quando você estiver transando com alguém no nosso apê de um quarto só?”, perguntara ela. “Coloco uma meia na porta e você que se contente com o sofá”, retrucou ele brincando, mas também imaginando que, dia ou outro, também teria de dormir fora do quarto.
Arranjaram mais algumas complicações que foram resolvidas por ideias etéreas, e quando ele disse: vamos, está pronta?!, ela hesitou. Retrucou: fugir nunca é a resposta! E naquele instante todos os planos desmoronaram
Ele via sentido, porém, no que ela dizia, mas sua mania de filosofar o levou a um território perigoso.
-Agora é tarde demais!
– Por quê?
– Porque agora que já temos tudo planejado, não há como escapar do fracasso. Se fugirmos, somos covardes pelo que deixamos. Se ficarmos, abandonamos nossos planos, vontades, quem sabe sonhos criados. Não há mais volta, somos fugitivos de qualquer forma, covardes cotidianos que só não desaparecem por medo, de ficar e de partir.
Ela considerou o que ele dizia e viu que era verdade, mas algo veio lhe consolar, ela compartilhou.
– Bem, pelo menos somos bons em criar fugas, poderíamos abrir um negócio.
A brincadeira virou realidade e criaram os “Desenvolvedores de Fuga”.
No portfólio da empresa pode-se ler: Desenvolvedores de Fuga – planejamos fugas executivas, familiares, amorosas, adúlteras, infantis, e muito mais, venha conhecer nossa área especializada em adolescentes revoltados!!!
O negócio fez sucesso, muita gente buscava os serviços, às vezes temporários, às vezes permanentes. Descobriram que mais pessoas do que esperavam gostariam de fugir. Nessa era de consultores de todos os tipos fizeram muito dinheiro e acabaram presos à empresa.
Hoje estão ricos, mas ainda arde no peito dos dois o desejo de uma fuga nunca realizada naquela tarde abafada.
Naõ existe adolecente no mundo normal
o qual nunca tenha planejado uma fuga,
parabens cada vez mais voce me surpreende com seus penssamentos,e textos voce e demais,seu sucesso e garantido.
Shirley