E no meio daquele evento de “Estudos sobre a América Latina e a posição do Brasil no cenário mundial”, ele teve sono.
Na verdade, ele não tinha nem certeza se aquele era mesmo o nome do evento, mas tanto fazia, especialmente porque o palestrante nada mais fez do que se sentar e projetar uma tabela infinita de dados que não levavam a lugar algum. “As estatísticas são uma ferramenta e não uma finalidade, por que ninguém entende isso”, pensava ele quase adormecendo.
Estava acompanhado de uma garota, uma menina interessante, na verdade. Ela era de uma cidade vizinha e, portanto, estava impressionada com a “metrópole”, e o convidou para assistir o tal evento que ele nem sabia que existia. Como acontece muitas vezes, as pessoas que vêm de outras cidades tendem a saber mais da programação de Sampa do que as pessoas que aqui nasceram e vivem.
Ele estava cansado, passara a noite anterior fazendo alguma pesquisa para a faculdade – uma novidade recente para ambos – e, naquela noite, só aceitou o convite porque não queria deixá-la sozinha na “metrópole”… e porque a achava graciosa, diga-se de passagem.
Como sinceridade nunca fora um problema para ele, virou-se para ela (que estava ao seu lado, numa pose de expectativa que não parecia ser a respeito da palestra) e disse, “estou com muito sono”, ao que ela respondeu, “quer que eu te pegue um como d’água?”.
Ele não agüentou a comicidade da situação e riu. Ela não entendeu de imediato e nem ele diretamente, mas ele nunca tinha ouvido que beber água era uma solução naquela situação. “A menos que eu jogue sobre minha cabeça”, pensou ele.
Seja como for, de maneira intencional ou não, o sono passou. Não pelo copo d’água, naturalmente, mas pelas risadas que compartilharam e porque, quando ela riu, ele percebeu um motivo muito mais gostoso para se manter acordado.
Na saída da palestra, no pátio, uma brisa fresca soprou e ela se aproximou do garoto, que a enlaçou pelos ombros e a aconchegou perto do peito. A posição do Brasil no cenário mundial pouco importava.
Toda política é micro quando a graça de uma menina que sabe sorrir conquista o seu coração.
Linda crônica! Boa, como sempre!